DAVID HOCKNEY, DAVID HOCKNEY FOTÓGRAFO, 1985

No passado domingo completou-se o 80.º aniversário do nascimento de David Hockney (Bradford, Reino Unido, 9 de julho de 1937)

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David Hockney

David Hockney fotógrafo

Fotografia: David Hockney / Apresentação: Sommer Ribeiro / Textos: Mark Haworth-Booth, David Hockney e Luís Ravenga

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian / Nov. 1985

Brochura / 21,1 x 29,8 cm / 48 pgs

Português / 1.500 ex.

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Este livro é o catálogo da exposição de fotografia de David Hockney apresentada em novembro de 1985 na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian e em Maio no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, pretendeu dar a conhecer a obra fotográfica do Autor, do qual a Fundação já havia exposto desenhos e do qual possuía então uma pintura. Foram mostradas 25 folhas de álbum e 76 “Polaroids”. O catálogo reproduz um conjunto significativo, incluindo ainda três textos extensos que permitem conhecer melhor a obra fotográfica do pintor.

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A primeira parte desta exposição é uma selecção dos álbuns e Hockney. Os álbuns são grandes – 18 x 22,5 polegadas [c. 45 x 57 cm] – contém seis ou oito fotografias de tamanho standart ( 4 5/8 x 2 1/8) somam uns cem e compreendem umas 20 000 fotografias que remontam desde 1961. São fotografias de férias, amigos, preparação para quadros ou desenhos de obras acabadas e exposições. Reproduzem visitas, casamentos, natividades e viagens, como a maioria dos álbuns.”,

Mark Haworth-Booth, «assistente Keeper of photografs do Museu Vitoria Albert, de Londres», escreve na “Introdução”, onde narra também o surgimento das fotografias compostas, as Polaroides de Hockney:

Hockney contou que começou a série de colagens fotográficas com a Polaroid, depois da visita de Alain Sayag lhe fez para selecionar fotografias dos seus álbuns para a Exposição Pompidou. Discutiram sobre a validade da imagem única. Depois Hockney começou a fazer instantâneos soltos com a Polaroid na sua casa decorada de Montcaim Avenue, da varanda ou do terraço exterior do jardim e da piscina mais abaixo. Tinha estado a tentar pintar o mesmo triplo, e juntou margem com margem os três grupos de polaroides.

A experiência com a Polaroid SX-70 tinha começado a superar o momento congelado das fotografias tradicionais, a que Hockney chama agora desdenhosamente «tortas». Quebrou naturalmente todas as regras. A SX-70 tem uma lente fixa de grande angular. Para construir uma vista geral convincente de um interior e uma figura era necessário escolher uma posição a partir da qual se suporia visto o tema, e a mover-se no espaço fazendo séries de primeiros planos de pormenores.

Cada pormenor tinha de estar relacionado de modo mais ou menos coerente com o suposto ponto de vista geral e também com as imagens continuas.

Estas composições de grande dimensão podiam ir-se estendendo no chão e ir-se reajustando conforme se fosse acrescentando cada nova polaroid. As obras maiores requeria m seis ou sete horas para a sua elaboração. Os resultados são vivos, imprevisíveis no pormenor mas pictorialmente lógicos no conjunto.”

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David Hockney no texto “Sobre a Fotografia”, fala da história da fotografia e do seu percurso com a fotografia, sempre centrado na pintura:

Quando Picasso pinta uma figura com três narizes ou quatro mãos, trata-se naturalmente do mesmo nariz oi da mesma mão vista várias vezes. O nosso olhar não pode deter-se num só desses aspectos, vê-se obrigado a mover-se: esse movimento está no quadro, o nosso próprio olhar capta-o.

Pensei que isto representava melhor a verdade das coisas que uma fotografia, que reproduzia melhor o que eu estava vendo e sentindo. Assim, enveredei por esse caminho e fiz várias outras composições. …

Apaixonava-me a ideia de contar uma história. A fotografia ao fim e ao cabo, opera sempre por sequências. Tem de captar uma acção, logo outra, etc.”

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De Luís Ravenga em “Este David Hockney”, sublinho:

Fotografar é, além disso, um acto de sedução. E uma fotografia é, fundamentalmente para Hockney, a crónica de uma imagem.

A sua primeira máquina foi uma Instamatic. Com ela realizou o primeiro álbum entre 1961 e 1967, neste último ano compra uma Pentax 24×36, …

Escreve [citando Hockney]: «desde que se começa a fazer fotografias aquire-se uma consciência agudizada / muito viva da luz. Dei-me conta de que é condição essencial da imagem: sem ela não há fotografia. A minha pintura recuperou esta descoberta estabelecendo-se entre ela e a fotografia uma simbiose que dura até hoje. No fundo toda a fotografia fala de luz.»”

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Completa o catálogo uma biografia e a reprodução de algumas das peças expostas.

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A sua obra fotográfica, particularmente as “Polaroids”, carateriza-se por imagens compostas por múltiplas fotografias, fragmentos. Detalhes, que monta compondo a imagem. O deslocamento eventual do ponto de vista, a sobreposição dos fragmentos – assumidos na montagem / colagem – conduz a uma imagem final de contornos irregulares e descontínua, não desvirtuando o objeto (ou paisagem ou retrato) fotografado, mas apresentando-o com um outro olhar, só dele.

Como poderia ser uma pintura.

 

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David Hockney fotógrafo, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985

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Hockney prosseguiu a sua prática artística centrada na pintura. A Taschen, em 2016, editou um volume especial dedicado à sua obra: “The David Hockney Sumo”, no formato 50 x 70 cm, com 498 págs.

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