JOÃO PINA, CONDOR, 2014

.

.

.

João Pina

Condor

Fotógrafo: João Pina / Introdução: Jon Lee Anderson / Posfácio Baltasar Garzón Real / Poema: Verónica de Negri / Texto: João Pina / Traduções: Ana Glória Lucas

Lisboa: Tinta da China / setembro . 2014 (1.ª ed.), 2017 (2.ª ed.)

Português / 20,6 x 20,6 / 246 págs., não paginado

Cartonado / Inclui booklet “Legendas”, agrafado de 20 págs, não paginado, 15,9 x 15,9 cm , com a reprodução das fotografias e as legendas extensas e datas, em bolsa na face interior da contracapa.

ISBN: 9789896712211 (Portugal), 9788565500128 (Brasil), 9788560919307 (Paço das Artes)

Editado com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, Paço das Artes e Secretaria da Cultura do Governo do Estado de S. Paulo

.

.

Condor

Blume / Fevereiro . 2014

Inglês / 20,6 x 20,6 cm / 246 págs., não paginado

Cartonado / Edição normal + 100 ex. edição especial com caixa e 1 de 4 fotografias 20,0 x 20,0 cm, assinada e numerada (1 a 25 de cada fotografia) [sobre o pedido ver no final *]

ISBN: 9788498017830

.

.

Condor : Le plan secret des dictatures sud-américaines

Editions du Sous Sol / 2016

Francês / 20,6 x 20,6 cm / 246 págs., não paginado

ISBN: 9782364682139

.

.

Cóndor. El plan secreto de las dictaduras sudamericanas

Blume / Setembro . 2014

Espanhol / 20,6 x 20,6 cm / 246 págs., não paginado

ISBN: 9788498017700

.

.

Joao_Pina-Condor (1)

.

.

“Operação Condor”, o nome de uma ave de rapina dos Andes, é o nome do pacto secreto iniciado em 1975 e que se prolongou até finais da década de 80, entre as ditaduras militares sul-americanas do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Paraguai, para aniquilar a oposição, não só naqueles países como também fora deles, estimando-se o número de vítimas em 60 mil.

Ao longo de 9 anos João Pina investigou, falou com pessoas, fotografou. Muito pouco se sabe. Registou testemunhos, rostos de familiares dos que desapareceram, objetos que lhes pertenciam, vestes e ossadas que foram encontrados (que agora são estudados procurando provas e respostas), lugares e espaços.

O João falou com estas pessoas. Vemos nestas fotografias as mães, os filhos, os netos, os parentes vivos das vítimas. Elas estão a olhar para nós como se estivessem a dizer: ‘Eu existo, esta história existe, estou aqui.’”,

explica Diógenes Moura, curador brasileiro da exposição que atualmente se apresenta em Lisboa.

.

A História é negra e o livro é negro. Capa preta, as letras a prata. Nas guardas, uma cronologia das datas mais marcantes: de 1954.05.04, o Golpe de Estado no Paraguai, a 2006, quando começam os julgamentos de militares argentinos por crimes contra a humanidade.

No interior as fotografias são a preto e branco. Negras e contrastadas. Os lugares, os objetos, os momentos históricos, são imagens que ocupam a página inteira, regra geral, duas a duas, quando não é uma imagem a tomar todo o fólio. Os retratos apresentam-se com o negativo integral, encaixilhado pelo ser bordo, a margem branca envolvente. Sobre a fotografia, uma folha de vegetal, identifica o ou os retratados e regista o testemunho (ou o poema), a página esquerda em branco. Temos assim o texto, o testemunho sobre o rosto, sobre a pessoa.

As primeiras fotografias são imagens históricas, de arquivo. E o convite e a ata da reunião fundadora da Operação Condor. Depois os locais, as pessoas, objetos. A terminar, imagens de 2009 a 2012, dos julgamentos.

Após as imagens históricas, o jornalista do New Yorker, Jon Lee Anderson escreve “Operação Condor”. O poema de Verónica de Negri é o seu testemunho. Depois de todas as imagens, o juiz Baltasar Garzón Real , em posfácio, fala de “Os Direitos das Vítimas” e João Pina escreve “À sombra do Condor”, sobre a história deste projeto.

Em bolsa, no verso da contracapa, um booklet “Legendas” legenda de modo descritivo e data todas as imagens.

Uma obra completa, vasta, maior que a sua dimensão: uma dimensão intimista, pessoal, apesar dos gritos de dor, a paz que se procura.

.

.

Jon Lee Anderson, jornalista do New Yorker e autor da introdução, refere:

É o lado “esquecido” deste episódio da História contemporânea que este magnífico e inquietante livro de imagens de João Pina procura evocar. Nas fotografias de familiares, de lugares de execuções e câmaras de tortura, ou de lugares onde as pessoas desaparecidas foram vistas pela última vez — e nos rostos emocionados das suas mães, pais, filhos e amantes —, João Pina encontra um sentido epitáfio para as pessoas cuja vida lhes foi roubada em segredo, cujos corpos foram feitos desaparecer e, por vezes, cuja própria existência foi deixada em dúvida.»

.

O juiz espanhol Baltasar Garzón, que escreveu o posfácio, regista:

Todos os esforços e energias são necessários para que os olhares tristes e de dor infinita registados nas impressionantes fotografias de João Pina, neste livro, se transformem em sorrisos de esperança.»

.

João Pina, sobre este projeto e sobre os seus projetos – é o vencedor do Prémio Estação da Imagem 2017 Viana do Castelo, com o projeto “Rio de Janeiro – Preço pelos eventos desportivos”, sobre as implicações na economia e na vida social da realização dos Jogos Olímpicos naquela cidade – diz em entrevista ao Jornal de Letras:

Há muito que não acredito na “isenção” jornalística. Acho que tenho uma visão própria, fortemente política(…). Todas as pessoas que entrevisto e fotografo, todos os lugares que visito, todos os julgamentos a que assisto, devem‑se a uma curiosidade que é causa direta das minhas ideias, da minha forma de ver o mundo. Não me revejo numa ideologia específica, num partido, num dogma. As minhas inquietações, porém, vêm muito de abordagens políticas. Seja porque vejo e documento, enquanto repórter, o sofrimento dos pobres no Brasil ou os efeitos devastadores na população civil de uma guerra como a do Afeganistão. Mas também a destruição de enormes conquistas dos portugueses, desde o 25 de Abril, por força de uma política para a qual o Estado Social é algo pesado e inútil. Política controlada por setores da sociedade que estão a hipotecar o futuro de pelo menos uma geração de portugueses.»

.

Destaco ainda o testemunho do jornal Expresso sobre este livro:

Objeto sóbrio, delicado também, distingue-se por uma coerência editorial que assenta quer na escolha das imagens — todas elas a preto e branco e na sua maioria em formato quadrado, de resto a opção formal do livro —, quer no conteúdo editorial quer ainda na definição gráfica, “Condor” assume uma perspetiva alargada historicamente do que foi a operação militar, mas consegue, em contraste, nutrir uma intimidade muito próxima do afeto com todas as histórias narradas na primeira pessoa. Desse cruzamento atípico nasce outro objeto, aquele que cria a empatia necessária com o leitor para que este não se atenha apenas nas imagens publicadas. Não significa isto que as fotografias não tenham o seu peso. Aliás, este é muito provavelmente adensado pelas narrativas e textos informativos, como também por um trabalho de legendagem precisa de cada imagem publicada num booklet em separado.»

.

.

.

 

Este slideshow necessita de JavaScript.

João Pina, Operação Condor, 2014

.

.

.

image001

.

.

A exposição “Condor”, depois de ter sido mostrada em São Paulo, Rio de Janeiro, Montevidéu, Santiago do Chile, Buenos Aires, Medellin, Nova Iorque e Arles, está patente em Lisboa, no Torreão Poente do Terreiro do Paço, de 20 de abril a 25 de junho de 2017 (inicialmente prevista até 2 de julho).

.

.

.

Pode conhecer melhor a obra de João Pina aqui.

* A aquisição da edição especial só é possível diretamente no site do autor, aqui.

Pode conhecer mais sobre esta obra no site da editora, aqui e sobre o que a imprensa refere aqui.

Pode ler a entrevista de João Pina a Sérgio B. Gomes, do jornal Público, de 20.04.2017, aqui.

.

.

.