DOM JULIO CORDERO, LA PAZ, BOLIVIA, PRIMEIRA METADE DO SÉC. XX

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Dom Julio Cordero, [individuais]: Rainha do Além, 1910 – Má, 1910 – [grupos:] Todas seremos senhoritas, 1910-1920 – Perdedores, 1904 – Por acaso, tínhamos passado?, 1920-30 – Serventes e servidos em comunhão, 1930 – Desobediência, por sua culpa vou ser feliz, 1915 – Nossa vingança é sermos felizes, 1910-1920

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As fotografias de Dom Julio Cordero, da coleção de Rafael Doctor, de pequeno formato, são retratos individuais ou de grupo, que retratam a população e a vivência da cidade de La Paz, Bolívia, na primeira metade do séc. XX. Percebe-se a diferença social e económica entre as pessoas indígenas e ocidentais. Estas fotografias são pois um testemunho da história e da vida da Bolívia – e da América do Sul – naquele período.

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Esta exposição pretende dar a conhecer o trabalho de Dom Julio Cordero, desenvolvido na primeira metade do século XX, na cidade de La Paz, a capital da tão desconhecida e apaixonante Bolívia. Através desta seleção de pequenas fotografias de época, é possível estabelecer um primeiro contacto com uma das referências da imagem fotográfica latino-americana. O estudo deste grande fotógrafo é relevante tanto pelas contribuições estéticas como pelo seu conteúdo documental.

Agora terá chegado, possivelmente, o momento de reformular a verdadeira história da fotografia latino-americana a partir do entendimento da diversidade como elemento principal e da integração das áreas periféricas como elemento essencial. Como é possível que existam tantas histórias da fotografia latino-americana e em todas se ignorem os fotógrafos bolivianos? – Esta lacuna não foi produzida pela ausência, mas pelo desconhecimento da obra dos fotógrafos que têm trabalhado nas principais cidades da Bolívia. A história da fotografia latino-americana que conhecemos baseia-se em poucos elementos e não explora a diversidade de projetos das complexas sociedades do último século e meio.

Esta exposição é uma pequena aproximação ao mundo imenso e complexo de imagens que existem ainda guardadas no “Archivo Cordero” de La Paz e que, neste momento, se encontram numa fase de estudo. Abre-se uma porta que nos aproxima da história de um país belo e riquíssimo em valores humanos; um país constantemente em busca de um lugar possível num mundo competitivo e devastador, ao qual não parece pertencer.

A Bolívia, como tantos outros países que estão incluídos no terceiro mundo, abre-se ao novo século com os mesmos problemas endémicos com que abandonou o anterior, mas com a esperança de encontrar um espaço, no qual possa viver e se desenvolver com a dignidade merecida por todos os povos.

Através destes retratos, da firmeza e da temperança com que tantas pessoas posam diante da câmara de Dom Julio Cordero, pode-se realizar um percurso pelo passado através da história quotidiana deste povo: casais de namorados, famílias completas, colégios, casamentos, reuniões familiares, celebrações campestres, documentos policiais, registos militares e, sobretudo, rostos que olham, em muitos casos, pela primeira vez, para uma câmara que regista para o futuro, para o qual eles serão sempre o passado.

Com estas poucas cenas fotográficas é fácil construir uma ideia da sociedade boliviana do princípio do século XX e observar as contradições em que se encontrava. A Bolívia é um país onde convivem duas culturas radicalmente diferentes: a ocidentalizada, proveniente da sua herança europeia, com valores centrados no cristianismo e no capitalismo, e a multicultural indígena com a sua comum Pachamana que está presente como em nenhum outro lugar do continente americano e luta para não sucumbir à esmagadora força da economia global.

As legendas das fotografias foram solicitadas pelo dono da coleção, Rafael Doctor, à escritora e ativista anarco-feminista boliviana Maria Galindo, que fez uma re-leitura poética de cada uma delas, carregada de grande ironia e crítica social.”

Miguel López Pelegrin

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Folha de sala (A4, 4 págs), rosto

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Julio Cordero nasceu em Pucarani, no centro do Altiplano boliviano, em 17 de agosto de 1879 e ainda criança partiu para a capital, La Paz, com o pai, procurando melhores condições de vida. Cedo começou a trabalhar como ajudante no estúdio fotográfico dos irmãos Valdés, de nacionalidade peruana, onde aprendeu as técnicas da fotografia da época.

Em 1900, Cordero abriu o seu próprio estúdio fotográfico, no centro da cidade, em que oferecia todo o tipo de fotografias, “retratos, famílias, grupos campestres, colégios, locais ferroviários, interiores de fábricas e igrejas”, como mencionavam os panfletos publicitários de então.

A popularidade do seu estúdio levou-o a ser eleito “Alcalde de Barrio”, numa das zonas mais povoadas e mestiças da cidade e, através do seu vínculo com o Partido Liberal, tornou-se também fotógrafo de vários governos e da polícia boliviana, tendo sido reformado com a patente de capitão desta força.

O “Archivo Cordero” atinge um volume de milhares de peças. Para além de abarcar todo o tipo de personagens da fotografia e uma surpreendente quantidade de fotos feitas sem pedido, motivadas pelo desejo de retratar uma sociedade complexa (fotografias de mendigos, do tipo postal com personagens indígenas, paisagens e todo o tipo de eventos públicos), e não ficou esquecido nenhum aspeto da vida social, quotidiana, política e económica, que passaram pelo olhar do fotógrafo.

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2017

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A exposição “Archivo Cordero” está patente no Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, na Rua da Palma, 246, em Lisboa, de 2 de maio a 1 de julho de 2017, no âmbito da Capital Ibero-Americana da Cultura, Lisboa 2017.

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