Valter Vinagre, OLHA, 2011
Valter Vinagre
APAV – 20 anos, OLHA
Fotografia: Valter Vinagre / Texto: José Félix Duque (A Coroação da Esperança. Apontamentos para uma história da APAV), Celso Martins (Antes da Vida Seguinte)
Lisboa: APAV / Outubro . 2011
Português e inglês / 17,0 x 24,1 cm / 175 págs.
Cartonado, impressão a preto sobre tecido preto / 500 ex.
ISBN: 9789728852467

OLHA
O título é um grito.
OLHA
Que desafio… Olhar. Ver. Perceber. Sentir. Agir.
Valter Vinagre (Avelãs de Caminho, 1954) mostra espaços interiores e exteriores, mais ou menos amplos, algumas pessoas, rostos, mais ou menos visíveis.
Mais uma vez, este é um projeto de Valter Vinagre de denúncia.
OLHA
Cada fotografia tem uma história por trás, que Vinagre fez questão de saber, de conhecer, para testemunhar pela fotografia. Só assim faz sentido cada fotografia.
Cada fotografia é uma história.
Cada local representa uma história de vida, a história dramática de uma pessoa ou de uma família.
OLHA
Cada local é testemunho de agressão, de violência. Pontual ou repetida, continuada. Ou onde alguém foi encontrado… já sem vida.
Não há limites geográficos. A norte ou a sul. A este ou a oeste. Também nas ilhas: Madeira e Açores.
OLHA
O grão e o negro das imagens e da própria encadernação são um reflexo do drama das vítimas.
Nos vinte anos da APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (fundada em 25 de junho de 1990), um alerta para a realidade dramática e, tantas vezes tão tão silenciosa, da violência doméstica.
ANTES DA VIDA SEGUINTE
Como fotografar o silêncio? Como fotografar o invisível ou o velado? Desde que há fotografia – melhor seria dizer, desde que há imagem – que o problema se põe. Seja porque o que está em causa são conceitos e não realidades tangíveis, seja porque essas realidades se furtam absolutamente ao olhar da câmara.
A violência doméstica, entendida como fenómeno alargado, é um destes casos. É omnipresente em todas as sociedades, mas invisível. É ilegal (é mesmo um crime público) na nossa, mas resistente à sanção social e à lei.
O que é novo na modernidade não é a violência, mas, por um lado a natureza dessa violência e, por outro, o modo como a vemos e a enquadramos entre o espaço público e privado. O seu território, o seu capital de impunidade é precisamente esse círculo fechado que constitui a privacidade, que deixa à porta o Estado, as leis, a urbanidade exigível aos comportamentos.
(…)
Como já havia acontecido antes, na série “Olha” as imagens são o que fica de uma relação lenta, demorada, com uma realidade ou fenómeno social com os quais o fotógrafo se implica. Essa metodologia permite-lhe ser o destinatário de um sem número de histórias que alargam profundamente a compreensão do que observa, bem para além da centralidade de um tema ou de um assunto.
Escutando relatos, experimentando os espaços, aproximando-se da envolvência de cada caso, Vinagre acerca-se de forma múltipla de um fenómeno social total como a violência doméstica em que dimensões sociais, económicas, culturais e até políticas se entrelaçam. E é essa aproximação múltipla, essa percepção da densidade e delicadeza do fenómeno em causa que o afasta definitivamente de uma abordagem óbvia.
(…)
Poucos assuntos podiam ser menos atraentes e mais destituídos de glamour e de fotogenia como a vida das pessoas vítimas de violência. O circuito mediático guarda-as normalmente para encarniçar em nós a faceta humanista que todos julgamos ter. A serenidade cúmplice das imagens de Valter Vinagre recusa liminarmente essa parasitagem. No fundo elas dizem uma só coisa de diferentes maneiras. Olha. Compreende o que puderes. Se puderes. E age. Se puderes.”
Celso Martins, in “Olha”
Valter Vinagre, OLHA, 2011
Este livro insere-se na “Trilogia da Dor”, de Valter Vinagre: OLHA – para – Carta do Sentir, sendo cada projeto desenvolvido ao longo de vários anos: “OLHA” foi publicado em 2011, “para” em 2006 e “Carta Do Sentir” em 2001.
Pode ver no Fascínio da Fotografia, “para” aqui e “Carta do Sentir” aqui.
Pode ver mais sobre este projeto no site do Autor, aqui e um documentário sobre a série aqui.
.
Atualizado em 15.04.2020 com o documentário.
Pingback: VALTER VINAGRE, CARTA DO SENTIR, 2001 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: VALTER VINAGRE, PARA, 2006 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . EXPOSIÇÕES . OUTUBRO – DEZEMBRO . 2019 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . EXPOSIÇÕES . JULHO – SETEMBRO . 2020 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA