RINEKE DIJKSTRA, HASSELBLAD AWARD 2017, FORCADOS, VILA FRANCA DE XIRA, 1994
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A fotógrafa holandesa Rineke Dijkstra (Sittard, 02.06.1959), vive e trabalha em Amsterdão. O seu trabalho centra-se na adolescência e na juventude e para a registar percorre o mundo.
Trabalhando em séries, os seus retratos são regra geral frontais, meio corpo ou corpo inteiro, dependendo dos projetos, o fundo neutro. Fotografa com uma câmara antiga de 4x 5 polegadas, pesada, montada sobre um tripé e um flash por trás da câmara, noutro tripé, para reduzir sombras e o contraste.
Uma das suas séries mais conhecida é Beach Portraits, de 1992, onde fotografa jovens na praia, fundo neutro de areia e mar, nos Estados Unidos, Polónia, Grã-Bretanha, Ucrânia e Croácia.
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Rineke Dijkstra, “Kolobrzeg, Poland, July 26 1992” (verde), “Coney Island, N.Y., USA, June 20, 1993” (preto). Série Beach Portraits.
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Em Tiergarten Series (-2000) fotografa adolescentes e meninos no Parque Tiergarten em Berlim e num parque na Lituânia. Posteriormente na série Park Portraits, fotografa jovens e grupos de jovens em parques, um pouco por todo o mundo.
Outras séries centram-se apenas numa pessoa, registando-a ao longo do tempo. Sobre os refugiados, realizou Almerisa (1994-2008), uma menina que fugiu da Bósnia com a família, tinha 6 anos quando pediu a Dijkstra que lhe tirasse uma fotografia. Essa imagem deu lugar a uma série: fotografou Almerisa de dois em dois anos, no centro onde esta se encontrava.
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Rineke Dijkstra, “Almerisa, Wormer, February 21, 1998” e Série Almerisa, 1994-2008.
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Shany (2001-2003) é uma jovem israelita e insere-se na série Israeli Soldiers (1999-2000): fotografa-a antes de entrar para o exército, no exército e após deixar; tal como outras jovens; o serviço militar é obrigatório em Israel para todos os jovens.
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Rineke Dijkstra, “Shany, Palmahim Israeli Airforce Base, Israel, October 8, 2002”, “Shany, Induction Center Tel Hashomer, Israel, March 6, 2003”, “Shany, Herzliya, Israel, August 1, 2003” (T-shirt preta). Series: Israeli Soldiers, Shany.
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Um outro projeto, centrado na vida militar, na Legião Estrangeira. Em Olivier (2000-2003) retrata Olivier Silva, ao longo do seu tempo de serviço em diferentes países, registando a sua evolução física e psicológica.
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Rineke Dijkstra, “Olivier, Quartier Vienot, Marseille, July 21, 2000 A” (T-shirt preta), “Olivier, Quartier Vienot, Marseille, July 21, 2000 B” (camuflado), ” Olivier, Quartier Vienot, Marseille, France, Novembre 30, 2000″ (farda cinza), “Olivier, Camp Rafalli Calvi Corsica, June 18, 2001”, (farda clara), “Olivier, Camp General de Gaulle, Libreville, Gabon, June 2, 2002” (T-shirt verde). Série: The French Foreign Legion: Olivier Silva.
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Uma das suas primeiras séries, foi realizada em Portugal, sobre os forcados amadores. Os retratos que Dijkstra faz, são logo após a pega. Nos rostos e nas roupas, o sangue do touro. O olhar de serenidade, alguma alegria, dorida, sobrepõe-se ao da conquista, da luta com o animal, da vitória. Como sentindo a tristeza por que a vitória é a derrota do touro, mais forte, mais pesado, com mais força.
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Rineke Dijkstra, “Vila Franca de Xira, May 8, 1994”. Série Forcados.
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No início da década de 90, Dijkstra dava aulas na Gerrit Rietveld Akademie, uma Escola de Arte, em Amsterdão. Uma vez por ano era organizado um passeio para os estudantes e em 1993 Lisboa foi a cidade escolhida. Num domingo foi a Vila Franca de Xira com alguns alunos.
Numa conversa com Anabela Mota Ribeiro, por ocasião de uma exposição da artista no CAV, em Coimbra, em 2008, Rineke Dijkstra fala sobre o projeto:
Chegámos justamente no momento em que os forcados saíam da arena, cobertos de sangue. Tirei algumas polaróides e elas estavam tão interessantes que decidi voltar no ano seguinte para fotografar estes rapazes com a minha máquina fotográfica de 4×5 polegadas.
Em 1994 fiquei duas semanas em Portugal. As touradas realizam-se unicamente aos domingos, o que significa que pude apenas trabalhar três dias. Um dia foi cancelado por causa da chuva. Era um pouco difícil organizar. Depois da tourada os homens ficam cansados e querem voltar para casa. Tinha sempre que trabalhar à pressa.”
Rineke queria fotografar imediatamente no final da pega, pois “estava interessada em captar as emoções pelas quais eles passaram”.
“… a foto do loirinho? Como sabe, estes forcados têm de pegar o touro. O seu “capo” não lhes diz antecipadamente quem vai pegar em primeiro lugar, porque é um acto perigoso e se estão muito conscientes não vão conseguir fazê-lo. Assim, só sabem dois minutos antes. Este loirinho teve que pegar o touro em primeiro lugar, e foi a primeira vez na vida que o fez. Estava muito excitado por ter conseguido não se ferindo muito. Por isso estava a sorrir.”
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Rineke Dijkstra é membro honorário da Royal Photographic Society e foi a vencedora do Hasselblad Award de 2017, anunciado em 9 de março passado.
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Daphne Channa Horn, Rineke Dijkstra
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Duncan Forbes, Presidente do Júri do Prémio Hasselblad 2017, justifica:
Rineke Dijkstra é um dos artistas contemporâneos mais significativos que trabalham o retrato fotográfico. As suas fotografias em grande escala concentram-se nas temáticas da identidade, tipicamente capturando os seus sujeitos em momentos de transição ou vulnerabilidade. Trabalhando em série, as imagens de Rineke Dijkstra recordam a acuidade visual do retrato holandês do século XVII, oferecendo retratos íntimos dos seus assistentes, ao mesmo tempo em que sugerem os aspetos do seu ser.
As investigações de Rineke Dijkstra sobre o retrato também incluem o vídeo. Os seus estudos de vídeo em câmara fixa produzem imagens que parecem ser fotografias em movimento, revolucionando nossa compreensão da fronteira fluida entre a imagem estática e a imagem em movimento. As fotografias e os filmes de Rineke Dijkstra falam brilhantemente da complexidade da imagem do retrato: a sua encarnação no tempo; a sua capacidade de revelar a história; a contingência do ato de troca entre retratado, fotógrafo e espectador; e, finalmente, a revelação da fotografia do eu. Num momento em que a imagem de retrato se dissipa numa economia de narcisismo e celebridade fractal, Rineke Dijkstra lembra-nos o potencial público do retrato fotográfico”.
Christina Backman, diretora-gerente da Fundação Hasselblad, refere:
Rineke Dijkstra desenvolveu um impressionante conjunto de trabalhos centrados exclusivamente no retrato. Os seus estudos próximos da transformação dos jovens em adultos são cativantes. Além disso, estamos orgulhosos que Rineke Dijkstra seja a primeira vencedora holandesa do Prémio Hasselblad.”
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Pode ler a entrevista a Anabela Mota Ribeiro aqui.
Pode ver a nomeação do prémio da Fundação Hasselblad aqui.
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