VICTOR PALLA, VICTOR PALLA, 1992
95 anos do nascimento de Victor Manuel Palla e Carmo (Lisboa, 13 de março de 1922 – Lisboa, 28 de Abril de 2006)
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Victor Palla
Victor Palla
Fotografia: Victor Palla / Introdução: José Sommer Ribeiro, Teresa Siza / Texto: Pedro Miguel Frade
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna / 1992
Português e inglês / 23,9 x 28,0 cm / 82págs.
Brochura
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A vida, afinal, é em si mesma,
uma grande insomnia, e ha um
estremunhamento lucido em tudo
quanto pensamos e fazemos”
Fernando Pessoa, “O Livro do Desassossego”, citado por Pedro Miguel Frade
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Victor Manuel Palla e Carmo, mais conhecido por Victor Palla, nasceu em Lisboa, a 13 de março de 1922.
Formado em Arquitetura, em 1945, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, teve atelier conjunto com o arquiteto Bento de Almeida. Desta dupla surgiram os primeiros snack-bares do país, entre os quais o Galeto, o Carossel e o Piquenique em Lisboa, e o Cunha, no Porto, além de escolas, fábricas, edifícios de apartamentos e tantos outros.
No entanto, a sua atividade vai muito para além da arquitetura.
Como designer, concebeu graficamente um sem número de publicações, de revistas a catálogos de exposições, bem como capas de livros publicados por várias editoras, nomeadamente a Editorial Saber, a Coimbra Editora e a Atlântida, também em Coimbra, entre 1944 e 1959, para a Arcádia entre 1957 e 1960, entre outras.
Dedicou-se também à pintura que apresentou regularmente desde meados da década de quarenta, e co-fundou galerias no Porto e em Lisboa.
A fotografia mereceu-lhe um carinho especial, pois era filho de um fotógrafo amador, Vítor Manuel do Carmo, e profundo conhecedor das técnicas e do que se fazia lá fora.
Entre 1956 e 1958, conjuntamente com o arquiteto Manuel Costa Martins (1922-1996), fotografa intensivamente Lisboa: a Lisboa não mostrada, das pessoas comuns, da vivência do dia-a-dia. Resultaria na obra “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”, exposto na Galeria do Diário de Notícias, em Lisboa, e na Galeria Divulgação, no Porto e de seguida publicados em livro numa edição dos autores, saindo em fascículos. Foi o primeiro livro português (e único em vários anos) referenciado em The Photobook A History, vol. I, de Martin Parr e Gerry Badger, Phaydon: 2004, pgs. 212-213.
Contudo o sucesso ficou além do esperado, a visibilidade e o impacto foram reduzidos, levou-o a uma menor dedicação à fotografia. Apesar de não deixar de fotografar, nem como autor, nem no âmbito dos seus projetos, deixou de expôr fotografia.
Será em 1982, com a abertura da Galeria Ether – vale tudo menos tirar olhos, que António Sena, também arquiteto e também amigo da família, mostra fotografias do projeto “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”, sob o título “Lisboa e Tejo e Tudo (1956/59)”, enquanto recupera alguns exemplares daquela obra, a partir dos fascículos que sobraram da edição original. Esta exposição seria reapresentada na Fundação de Serralves, no Porto, em 1989. Em 1988 expõe nos Encontros de Fotografia de Coimbra.
Em 1992, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, realiza uma exposição retrospetiva, “Victor Palla”.
A obra fotográfica de Palla, conhecida sobretudo a partir da mostra na Galeria Ether, veio inspirar a obra de autores emergentes, como Paulo Nozolino, para citar apenas um dos nomes mais significativos.
Em 1999, é-lhe atribuído o Prémio Nacional de Fotografia, pelo Centro Português de Fotografia / Ministério da Cultura, o qual “distingue a carreira de um fotógrafo cuja intervenção criativa é considerada relevante no panorama da fotografia portuguesa, tanto pelo seu carácter inovador, como por desencadear processos renovadores.”
Victor Palla faleceu em Lisboa, em 28 de Abril de 2006, vítima de pneumonia.
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A exposição que o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian realiza entre setembro e outubro de 1992, “Victor Palla”, dedicada ao fotógrafo, foi comissariada por Pedro Miguel Frade, o qual veio a falecer antes da inauguração, não chegando a fazer a revisão final ao magnífico texto que escreveu para o catálogo. Este livro é o catálogo desta exposição.
Passeamos o olhar pelas fotografias, registadas tantas em passagem. Situadas entre 1948 e 1991, identificadas apenas pelo ano, embora os núcleos maiores sejam de 1956-58 e dos anos 80. Uma evolução do olhar, sim, mas uma continuidade da observação, das pessoas no seu dia-a-dia, na sua vivência, na sua cidade. Os pretos profundos, os enquadramentos cuidados ou ‘ao acaso’, as expressões…
as fotografias de Palla habitam o intervalo que constantemente se estreita entre o acaso dos encontros(que podem ser felizes ou infelizes ou, para usar as palavras de Espinoza, tristes ou alegres) e a necessidade dos projectos: “não há dúvida de que, se não trás o aparelho fotográfico, se nos deparam aqui e ali fascinantes motivos de belas fotografias; … Em compensação, quando se sai deliberadamente para fotografar, e se passam umas quatro ou cinco horas a gastar filmes, quase tudo o que se fez valeu a pena” …”
escreve Frade, citando Palla do livro Lisboa Cidade Triste e Alegre.
O livro inclui ainda um auto-retratato datado de 1949.
As imagens são fotografadas sempre com a sua Leica. Algumas podemos revê-las em Eyes Wide Open! – 100 Years of Leica, org. de Hans-Michael Koetzle, Berlin: Kehrer, 2015, págs. 280-303, ensaio de Emília Tavares.
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Victor Palla, Victor Palla, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992.
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A obra de Palla é, com certeza, no seu conjunto, merecedora de um estudo profundo e da sua apresentação e divulgação.
No que se refere à fotografia, os mais de 6.000 negativos produzidos conjuntamente com Costa Martins e toda a sua obra posterior, são de uma qualidade e atualidade que, por si só, justificavam um estudo detalhado, uma edição de vulto, e o reconhecido lugar na História da Fotografia.
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