VALTER VINAGRE, DA NATUREZA DAS COISAS, 2016
Valter Vinagre
Da natureza das coisas
Fotografia: Valter Vinagre / Texto: Emília Tavares
Lisboa: Mercador do Tempo / 05.11.2016
Português e inglês / 16,5 x 24,0 cm / 20 págs.
Cosido com costura de linha magenta / 150 ex.
ISBN: 9789898277497

Na Primavera de 1999, Valter Vinagre encontrou num campo de esteva, em Idanha-a-Nova, um colchão abandonado, com um lençol, uma almofada rasgada, a fronha… No Outono, o colchão e tudo o mais lá estava, abandonado, como uns meses antes. Voltou nos anos seguintes: em 2000, 2001, 2002, 2003, fotografando sempre. No “mesmo local, perdido e deslocado numa paisagem natural, transformando-se assim numa realidade dissonante e inexplicável.” Os objetos quase não mudaram de sítio, a decomposição foi-se agravando nos últimos anos.
É o que estas imagens registam.
São, pois, 6 fotografias, num preto e branco perfeito, formato quadrado.
(Em 2004, já não estava nada, diz Valter em conversa, o terreno foi escavado, o Homem removeu o que restava).
Valter faz assim um ensaio sobre a natureza das coisas: da sua importância ao abandono ou destruição; o carater efémero das coisas: depois de uma vida, a decomposição natural ou o desaparecimento pela mão do homem.
Sobre a presença deste colchão – ou ‘cama’ – se atendermos a todos os outros elementos que se mantiveram juntos: almofada, lençol, fronha – no local onde se encontra, só podemos supor ou intuir diferentes histórias. As imagens fotográficas têm esta capacidade de ‘contar histórias’: apresentando imagens de factos ou realidades, as histórias ficam em aberto…
Escreve Emília Tavares na introdução:
Só a fotografia permite esta elaboração complexa dos significados para lá da sua natureza temporal e do eu contexto matricial, como meio privilegiado de, no cerne da realidade, fazê-la derivar para o território da contradição e da sua própria impossibilidade.
Assim, esta série de imagens é reveladora do confronto que a fotografia tem desde sempre com a representação da realidade. A sua aptidão histórica e ontológica de revelar e testemunhar tem enfrentando, desde sempre, os fantasmas dos significados e realidades que não se deixam capturar ou cuja trajetória permanece indefinida e volátil. …
A condição destas imagens é assim a da possibilidade de representar através da exigência ao espetador da dura e difícil tarefa de elaborar uma imagem sensível.”
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Este catálogo, com um grafismo cuidado, reproduz as 6 fotografias da série, sendo a capa a impressa a magenta, como a linha de costura, o miolo impresso a preto.
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Vinagre quase década e meia depois de fotografar, apresenta-nos esta série, a qual é perfeitamente atual.
Olhando transversalmente a sua obra, encontramos uma imagem desta série a abrir a dramática “Carta do Sentir” (2001): a fotografia do ano 2000 (no formato retangular, a cor, a única a cor naquela obra), a qual se inclui também em “Húmus” (2009, com referência àquela série); por outro lado, remete-nos para o seu último projeto, “Posto de Trabalho” (2015, ver aqui).
Valter Vinagre, Da natureza das coisas, 2016

“Da natureza das coisas” está em exposição em Lisboa, na Ermida de Nossa Senhora da Conceição, Travessa do Marta Pinto, 21, em Belém, de 5 de novembro a 18 de dezembro de 2016.

Folha de sala.
António Bracons, Aspetos da exposição, 5.11.2016
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Caro António o meu bem haja. Está muito bem, mesmo muito bem.
Grande abraço e até breve. Valter
VALTER VINAGRE geral@valtervinagre.com http://www.valtervinagre.com Facebook: Valter Vinagre – Fotógrafo Tm:+351 966 170 344 Apartado 42118 1601-801 LISBOA PORTUGAL
Obrigado. Um abraço António
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