ANTÓNIO BRACONS, MOSTEIRO DE SANTA CLARA-A-VELHA, COIMBRA, 1986-91 – I
680º aniversário da morte da Rainha Santa, ano dos 600 anos da beatificação e dos 391 anos da canonização
António Bracons, Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra, 1986-1991
A Rainha Santa, Isabel de Aragão (Saragoça, c. 1270 – Estremoz, 4.07.1336) é filha de Pedro III de Aragão e de D. Constança de Navarra, casou com o rei D. Dinis. O contrato de casamento, combinado entre o seu pai e o rei português, foi concertado em 24 de abril de 1281 e tinha a particularidade de ser o primeiro celebrado em Portugal com escritura antenupcial, segundo o direito romano.
Era constante a presença da Rainha Santa Isabel junto do marido nas deslocações que este fazia pelo reino, o que lhe trouxe grande popularidade junto do povo, pois nessas alturas dava esmolas aos pobres e distribuía alimentos.
Sempre presente, interferiu na guerra civil que opôs o rei ao príncipe herdeiro D. Afonso; acusada pelo marido de favorecer os interesses do filho e foi mandada sob custódia para Alenquer. No entanto, por sua influência direta foi assinada a paz, em 1322; no ano seguinte evita o reacender da luta colocando-se entre os exércitos preparados para a batalha.
Muitos milagres são atribuídos à Rainha Santa, sendo o mais conhecido o ‘milagre das rosas’: a rainha, sempre pronta a ajudar os mais desfavorecidos, como era seu costume, encheu o regaço com pães, para distribuir. Tendo sido encontrada pelo soberano, seu marido, este inquiriu onde ia e o que levava no regaço; a rainha limitou-se a responder: “São rosas, Senhor!” Com efeito, ao abri-lo, brotaram rosas do regaço, ao invés dos pães que levava.
Depois da morte de D. Dinis, em 1325, recolheu-se nos Paços de Santa Ana, que mandara construir junto ao Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, mosteiro cuja reconstrução promoveu, sendo a igreja sagrada em 1330. Até à sua morte desenvolveu muitas obras pias, fundando ou ajudando à fundação de hospitais: em Coimbra, Santarém e Leiria, asilos e albergarias, mosteiros e capelas. Deixou em testamento grandes legados a muitas destas instituições.
A Rainha Santa Isabel faleceu a caminho de Estremoz, na quinta-feira, 04.07.1336, quando ia tentar fazer as pazes entre o seu filho, D. Afonso IV de Portugal e o seu neto, Afonso XI de Castela. Foi trazida para Coimbra, onde chegou a 11 de julho, ficando sepultada, de acordo com a sua vontade, no Mosteiro de Santa Clara, em túmulo de pedra.
O assoreamento do rio e as constantes cheias, inundando o mosteiro, levou a que o seu túmulo fosse mudado para o nível superior da igreja, sendo esculpido um arco (por Nicolau Chanterenne?) para o acolher (que vemos nestas fotografias).
Com o agravamento da situação e o mosteiro já parcialmente submergido pelas águas do Mondego, levou a que em 1649 se tenha iniciado a construção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, mais alto e fora do alcance das águas do rio. As monjas mudaram-se em 1677, sendo também trasladado o seu túmulo.
Ainda em vida o povo a chamava de Rainha Santa, no entanto, só foi beatificada pelo papa Leão X, em 15.04.1516, há 500 anos. Em 25.03.1625 é canonizada pelo papa Urbano VIII, celebrando-se a sua festa litúrgica a 4 de julho, dia adotado para feriado municipal da cidade de Coimbra.
No tempo em que eu andava em Coimbra, o Mosteiro estava ainda tomado pelas águas. O corpo da Igreja sobressaía parcialmente das terras e da vegetação, podia ser visitado dentro do horário de abertura definido.
Tinha naturalmente muitos visitantes, pois, apesar de uma camada de lodo e água de alguns metros (que a escavação removeu), não deixava de ser uma pérola.
São desse tempo estas fotografias.
Em 1991 iniciou-se a campanha arqueológica de escavação de todo o perímetro do mosteiro, que se concluiria no final da primeira década de 2000, com a execução da parede cortina periférica impedindo (ou dificultando) a passagem das águas e a construção do centro de interpretação.