AS JANELAS DO CPF – CENTRO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA (E O PHOTOGRAPHIA MUSEU VICENTE)

Dia Internacional dos Museus
O Centro Português de Fotografia foi criado pelo Decreto-Lei n.º 160/97, de 25 de junho, com sede no edifício da Ex-Cadeia e Tribunal da Relação do Porto, o qual havia sido desafetado dessa função em 29 de abril de 1975, na sequência do parecer do Grupo de trabalho criado para o efeito, em 1996, pelo ministro Manuel Maria Carrilho.

Logo no preâmbulo daquele diploma lê-se:

A análise da situação da fotografia em Portugal permite concluir que nunca houve, para este sector, uma política do Estado integrada, racional e eficaz, que contribuísse para a criação de uma cultura fotográfica nacional. Na verdade, a actuação do Estado tem sido dispersa, quer apoiando casuisticamente iniciativas do sector, em particular as de dimensão significativa, como encontros ou bienais, quer assumindo responsabilidades directas em relação à vertente patrimonial. Mesmo neste aspecto a intervenção do Estado foi pouco consequente, verificando-se que as competências neste domínio se encontram, desde 1991, no Instituto Português de Museus e que o denominado Arquivo Nacional de Fotografia nunca teve qualquer enquadramento legal, quadro de pessoal ou orçamento próprio.

A fotografia tem na contemporaneidade uma importância única, como forma de criação plástica, de intervenção na realidade, de instrumento científico e de testemunho por vezes único de eventos e representações que lhe dão um lugar de documento social e cultural que é necessário preservar. Assim, o Governo, na prossecução de uma política de intervenção cultural que tem como objectivo garantir aos cidadãos condições para o conhecimento, utilização e fruição do seu património fotográfico e, ao mesmo tempo, implementar uma apreciação crítica desse tipo de produção, bem como assegurar a transmissão da produção cultural da sociedade contemporânea, cria o Centro Português de Fotografia (CPF).”

De seguida especificam-se atribuições e funções do CPF, que se concretizam no articulado do decreto-lei, ver aqui. (Este diploma foi revogado pelo DL 93/2007, de 29 de março, que aprova a orgânica da Direção-Geral dos Arquivos, na qual passa a estar integrado o CPF).

 

A partir de dezembro desse ano, as salas de exposição do rés-do-chão começaram a ser utilizadas, mas o edifício só seria ocupado na totalidade em 2001, depois de restaurado a adaptado à sua nova função, sendo o projeto da responsabilidade dos Arquitetos Eduardo Souto Moura e Humberto Vieira.

 

 

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António Bracons, Centro Português de Fotografia visto desde a Torre dos Clérigos, 2001

 

 

Não posso precisar qual foi a primeira vez que fui ao Centro Português de Fotografia.

O espaço é fantástico, as exposições que vi na ocasião muito boas, a coleção de máquinas fotográficas do Doutor António Pedro Vicente verdadeiramente fabulosa – já havia visto a máquina de Cunha Moraes na exposição dedicada àquele fotógrafo nos Encontros de Fotografia de Coimbra, em 1991: “Viagens em Angola, 1877-97” e algumas em casa do próprio António Pedro Vicente, que revestiam, em vitrinas, muitas das paredes.

E quantos mais documentos, peças e detalhes!

O CPF tem tido em cada ano um número cada vez maior de visitantes. Em 2015 ultrapassaram os 100.000.

 

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Paulo Catrica, Centro Português de Fotografia

 

Este ano, encontra-se em obras de reabilitação e manutenção, desde o início do ano, prevendo-se que as mesmas se prolonguem até final de outubro. Contudo e apesar das obras, mantém-se aberto ao público e com atividade, o que é ótimo.

Ao fim de 15 anos de atividade, estas obras são, com certeza necessárias. E espero que estas obras incluam a substituição integral (pelo menos da maior parte, se não da totalidade) das caixilharias móveis!

Na verdade, naquela casa fantástica, chocou-me, logo na primeira visita ao CPF, as janelas! Caixilharia simples, em cantoneira de ferro, quer o batente, quer a folha móvel, vidro simples. Se o vidro simples por si só não tem resistência térmica, as folgas enormes (vários mm) entre a folha móvel e a cantoneira da guarnição, sem sequer um isolamento de borracha, deixavam entrar ar, quente no verão, frio e com humidade no inverno (e se a humidade no Porto é elevada!).

Ora, a função de um edifício é proteger-se e ao seu recheio. Sendo um Museu – e o CPF em parte é-o – o controlo de humidade e temperatura é necessário, se não fundamental. Por outro lado, é um espaço dedicado à fotografia e equipamentos fotográficos, logo, ultra sensíveis a variações de humidade e de temperatura, facilmente degradáveis e, na maior parte dos casos, se não na totalidade, peças únicas. Logo, mais uma razão para que tudo deva contribuir para a sua preservação.

Os projetistas sabiam para o que estavam a projetar e o edifício que tinham entre mãos, sendo pessoas cultas (será de pressupôr) e tendo obrigação de saber os cuidados e exigências das matérias que o espaço ia acolher, essa teria de ser (no meu entender) o fator determinante e decisivo de qualquer solução para a obra. Ou então, assumir-se que o edifício não é possível de se adaptar para o que se pretende. E quem tem poder para decidir, que decida. O dono de obra, no caso, o Estado deveria ter um saber técnico para analisar convenientemente as soluções e saber recusar uma solução que é, sobre todos os aspetos, inaceitável. Pelos vistos, alvitro eu, a solução implementada terá sido uma réplica dos caixilhos que, em 1767, o arquiteto da Lisboa pombalina, Eugénio dos Santos e Carvalho previu para o edifício. Se é que previu esse tipo de caixilhos, pois na altura a madeira era usada e com muito maior eficácia térmica e de redução da humidade! Mas tratando-se de uma prisão…

Para mim, como cidadão, como apaixonado pela fotografia e como engenheiro civil, esta solução de caixilharias é impensável. Como cidadão, como já referi, pelo bom senso e pela função de um edifício como de preservação dele próprio e do património que acolhe. Como apaixonado pela fotografia, pela extrema sensibilidade dos materiais sensíveis, papéis, películas, equipamentos. Valiosos. Únicos. Como engenheiro civil, porque como solução técnica e como solução térmica (questão que na ocasião já se começava a falar) é, evidentemente, péssima. Na época, as caixilharias de vidro duplo eram já de uso comum, ou, em alternativa, soluções de caixilharia dupla, em madeira, ou alumínio (lacado, mantendo o aspeto de cor e com maior durabilidade) / madeira, ou alumínio lacado, evidentemente com corte térmico, isolamento, muitas seriam as soluções possíveis e integradas.

Nunca uma solução para além do inimaginável…

Percebi então a razão dos aquecimentos tubulares mais abaixo: compensar com o calor a humidade e o frio que as caixilharias deixavam entrar. Evidentemente, uma solução cara de investimento e de exploração caríssima – o consumo de energia é sem dúvida extremamente elevado! Não errarei muito se disser que o custo dessa energia em dois ou três anos paga a substituição da caixilharia por uma caixilharia digna do espaço e do que ele acolhe! Ou, fotograficamente falando, aquele custo anual permitiria, com certeza, produzir uma ou duas grandes exposições ou apoiar algumas dezenas de projetos expositivos ou edições…

Aliás, isso mesmo foi confirmado numa entrevista (que li ou ouvi) com alguém do CPF (não me recordo quem) que dizia precisamente que aquele aquecimento fora projetado à-posteriori para compensar as caixilharias, e que o seu consumo correspondia a uma fatia significativa do orçamento da instituição. (Óbvio!)

Mas, a boa notícia é que ao fim de 15 anos, sem dúvida que estas obras do CPF serão mais que bem-vindas! Sobretudo se as caixilharias fizerem parte da intervenção!

 

Pode conhecer mais sobre o CPF, aqui.

 

 

 

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António Bracons, Photographia Vicente, Funchal, 2002

 

E, falando do CPF… No Funchal, o fantástico Photographia – Museu “Vicentes” encontra-se encerrado desde 5 de maio de 2014, aguardando por obras. Esperemos que sejam para breve!

 

Pode conhecer mais sobre o Photographia – Museu “Vicentes”, aqui.

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