“MAKE DO”, PAULO NOZOLINO, 2015
Do Paulo Nozolino, esta exposição é uma exposição diferente.
A parede de fundo que encontramos é vermelha, não um vermelho-sangue, mas um vermelho intenso, de paixão. Não é uma parede negra ou mesmo branca.
Percebemos pequenas imagens: o formato muito reduzido, mais precisamente 24 x 36 mm, a dimensão de um negativo 35 mm, uma impressão de contacto. Um passe-partout amplo, branco, centra-a no caixilho. Não temos médios ou grandes formatos nem imagens que preenchem completamente o caixilho, que conseguimos perceber ao longe.
Não são as fotografias que habitualmente vemos quando vemos as fotografias de Nozolino: não temos as imagens de desespero, de dor, de destruição, de precaridade, de abandono, de tristeza, imagens de guerra ou de um pós-guerra, de conflito, as imagens que tocam (e magoam) Nozolino e que faz questão de nos mostrar. Que fazem doer e nos magoam, também.
As fotografias são fotografias de mulheres, são fotografias das mulheres da sua vida, que de alguma forma fizeram parte da sua história, as mães dos seus dois filhos, amigas, namoradas.
Procurando – ou encontrando – no seu arquivo, ao longo de três meses, Nozolino escolheu vinte retratos, feitos entre 1974 e 2013, “fotografias de mulheres, nus, e fotografias intimistas que tinha feito ao longo dos anos”, perfeitamente identificadas: o nome – pela inicial, o local – pela cidade, e o ano.
Ele próprio imprimiu as fotografias a partir dos negativos originais: “Isto no fundo é um voltar à matriz da fotografia.” Também aí está a sua densidade de negros e de cinzas e de brancos.
António Bracons, Paulo Nozolino, 2015
“Não há acasos no trabalho de Paulo Nozolino.”, diz o texto da Galeria. E não há.
“Make Do significa fazer o que se pode com aquilo que se tem”, refere Nozolino em entrevista a Mariana Pereira (Diário de Notícias, 2.10.2015):
Este trabalho é uma espécie de contraponto a tudo aquilo de mau que tenho andado a fotografar. Isto são as boas coisas. … Tu não podes estar um dia inteiro a fotografar coisas que são más e que te magoam e chegar a casa e não ver ninguém. Eu dou imensa importância às mulheres com quem vivi. Quando se está em reportagem e se fica em quartos de hotel é horrível, porque tens de viver constantemente com o mau durante a noite e são os pesadelos. Mas voltar para casa e sentir que há alguém ali que te ama e te conforta é ótimo. Alguns desses momentos estão ali.”
Estas imagens são íntimas e intimistas.
Por isso, também, ao contrário das suas (outras) imagens, para ver tenho de me aproximar, tenho de olhar muito próximo, em cima, tenho, como que, de entrar no caixilho, na janela do passe-partout, na imagem. Ou não consigo ver. Tenho de tirar os óculos para conseguir distinguir, dada a proximidade. Nada mais conta, que aquela imagem, que aquela pessoa.
Nozolino leva-nos assim a partilhar a sua intimidade, o que o toca e sensibiliza. O que faz sentido. O que dá sentido.
Como sempre.
Paulo Nozolino, A., London 1977, da série Make Do
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Aspetos da exposição Paulo Nozolino, Make Do
Não está, para já, prevista a publicação em livro.
Talvez, digo eu, porque uma coisa é mostrar, ainda que numa galeria: num tempo limitado, a um público limitado. Outra é publicar.
Talvez, digo eu, porque há imagens que são demasiado privadas, demasiado pessoais, para serem publicadas.
Para sempre.
A GALERIA QUADRADO AZUL fica na Rua Reinaldo Ferreira, nº 20-A, em Alvalade, Lisboa.
A exposição está patente de 1 de outubro a 24 de dezembro.






