VALTER VINAGRE, POSTO DE TRABALHO, 2015
Valter Vinagre
POSTO DE TRABALHO
Fotografia de Valter Vinagre, texto de Jaime Rocha
Lisboa: XYZ Books e Fundação EDP / 2015
Em português e inglês / não paginado / 26.2 x 24.2 cm, 111 x 195 mm
Cartonado; inclui booklet agrafado, em separado, “A culpa não foi minha (monólogo dos dias instáveis)” / 375 ex. / numerados e assinados pelo autor, dos quais 25 incluem uma impressão inkjet assinada
ISBN: 9789899906310
Valter Vinagre fotografa os lugares. Os lugares são parte significativa do seu trabalho.
Estes lugares são paisagens ou espaços confinados, mais abertos ou mais fechados, como estão, como são.
Neste livro esses lugares são espaços de floresta de eucalipto ou pinheiro, pontualmente alguma clareira, por vezes junto à estrada. Lugares ocupados por cobertores sobre o chão, bancos mais ou menos improvisados, estrados de paletes, colchões e mantas e panos, sofás velhos, construções precárias, garrafas de água cheias ou vazias, papéis amarrotados…
Na paisagem natural, não é a natureza que nos prende o olhar, mas o que está a mais, o que Vinagre ilumina, o que destaca.
Um foco escondido dá luz ao espaço, destacando-o da noite, como se um cenário se tratasse, como sendo o centro de uma ação, o título esclarece ser o posto de trabalho.
Os lugares são o palco, o testemunho, silencioso ou gritante, de uma realidade que Vinagre quer denunciar e a qual ficamos a conhecer apenas pelas imagens desses mesmos lugares.
Para Vinagre cada fotografia é muito mais que uma imagem. Cada fotografia mostra um espaço que foi cenário ou testemunho de um drama, de uma realidade, que Vinagre conhece porque falou com algum dos (sobre)viventes de cada uma dessas realidades. Cada fotografia representa, é, uma história real. Só assim, para Vinagre, faz sentido cada fotografia.
Em Posto de Trabalho, como nos outros livros de denúncia, não há rostos, cada pessoa está presente pela sua ausência, está presente no espaço físico de uma ação que só podemos pressupor, intuir.
Foi assim com para (Assírio & Alvim, 2006), em que aponta para a tragédia dos acidentes de estrada; com Olha (APAV, 2011), que alerta para o drama da violência doméstica e é assim com Posto de Trabalho, sobre a prostituição da berma de estrada.
Enquanto nos outros livros de denuncia as fotografias são a preto e branco, neste são a cores: ressalta o posto de trabalho como toda a perturbação do espaço natural, destaca-se da paisagem, destaca-se da natureza.
As suas fotografias deixam-nos em choque com as condições, a precaridade, fazem-nos questionar a (in)segurança, a dignidade das e dos intervenientes.
Valter Vinagre desenvolveu este projeto em Portugal, entre 2010 e 2013.
Sobre ele, diz:
As fotografias que apresento nesta série – «Posto de trabalho» não mostram gente, mas é de gente que falam. Temos espaços e construções de aspecto efémero que abrigam e ocultam uma actividade laboral subterrânea.
Através destas imagens procuro falar da prática de prostituição numa das suas vertentes – talvez a mais dura, perigosa e menos digna para as suas trabalhadoras e clientes.
Falar da prostituição de berma de estrada implica reflectir da sua dualidade público/privado.
É público, porque se anuncia/mostra na berma de estrada. É privado, porque as suas práticas se fazem longe de olhares indiscretos, no recato da floresta, no interior de abrigos improvisados.”
Valter Vinagre, Posto de Trabalho, 2015
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O livro é composto exclusivamente pela fotografia. Complementarmente, um pequeno booklet apresenta o texto de enquadramento, de Jaime Rocha, como o testemunho de uma das mulheres e fica a dúvida (ou a certeza) que é um testemunho (ou conjunto de testemunhos) que narra, como um monólogo. Que nada no texto é ficção, mas apenas realidade(s).
E essa narração testemunha dignidade em cada uma das mulheres retratadas pelo seu posto de trabalho.
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“Posto de Trabalho” de Valter Vinagre recebeu o Prémio Autores 2016, da Sociedade Portuguesa de Autores, na Categoria de Artes Visuais, para Melhor Trabalho de Fotografia (2016.03.27).
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O livro foi lançado no âmbito da exposição que tem lugar na Fundação EDP / Museu da Eletricidade, na Sala Cinzeiro 8, de 26.06 a 04.10.2015 (inicialmente prevista até 20.09).
Integrado na exposição, o filme A Espera, de Valter Vinagre e Bruno Cabral, 9’30’’: sucessivos planos no olhar de quem espera e vê a estrada e o transito que passa, esperando por quem pára…
Filme A Espera, de Valter Vinagre e Bruno Cabral, 9’30’
António Bracons, Aspetos da exposição.
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Pode ver mais sobre Valter Vinagre aqui.
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