TESOUROS DA FOTOGRAFIA PORTUGUESA DO SÉC. XIX, MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA, 2015
O Museu Nacional de Arte Contemporânea ou Museu do Chiado, fundado em 26 de maio de 1911, há 104 anos, acolhe esta magnífica exposição, inaugurada a 29 de abril e que se prolonga até 28 de junho de 2015, cuja curadoria é de Emília Tavares e Margarida Medeiros.
De acordo com o texto da exposição:
A fotografia, no século XIX, encontra-se numa encruzilhada entre indústria, ciência, comércio e arte, constituindo uma das marcas da entrada da cultura oitocentista na Modernidade e abalando profundamente as formas de representação artística e não artística.
A partir do seu lançamento público em França, em 1839, a fotografia foi prontamente integrada no contexto científico, artístico e comercial da sociedade portuguesa de Oitocentos, constituindo-se como um património valioso que cruza as mais diversas áreas do conhecimento e que estabelece um retrato inovador da sociedade e da cultura coevas.
Através da visitação do legado fotográfico produzido em Portugal, entre meados de 1840 e 1900, podemos entender como se elaborou esta nova cultura visual no nosso país, contribuindo para a compreensão de uma sociedade em profunda transformação.
Este projeto apresenta, pela primeira vez, um conjunto significativo de autores e fotografias provenientes dos mais importantes acervos públicos e privados da história da fotografia portuguesa, colocando em diálogo os acervos fotográficos de diversas instituições públicas que têm como missão a salvaguarda do património fotográfico nacional, realçando a necessidade e a premência de abordagens integradas no acesso, estudo e divulgação da fotografia portuguesa.
A vastidão e significado destas coleções em grande parte nunca divulgadas, não só não se esgota aqui e agora, como levou a um desdobramento em duas exposições, esta primeira, apresentada no MNAC-MC, em Lisboa, e a segunda, na Galeria Municipal Almeida Garrett, no Porto, de 30 de Maio a 16 de Agosto de 2015, em parceria com a Câmara Municipal.”
Temos assim uma oportunidade única de ver algumas preciosidades dos primeiros 60 anos da fotografia portuguesa, selecionados entre 10 instituições e 4 particulares, onde se incluem 145 obras fotográficas, 7 álbuns, algumas publicações e quatro equipamentos fotográficos, como câmaras e um visor estereoscópico.
A exposição desenvolve-se em vários núcleos: panorama fotográfico, a fotografia artística – paisagem e retrato, fotografia e belas-artes, a fotografia de acontecimentos, a fotografia e as suas aplicações científicas e tipográficas, a fotografia patrimonial e o retrato fotográfico.
Estão presentes os grandes fotógrafos portugueses e alguns dos primeiros estrangeiros que fotografaram o nosso país, bem como obras notáveis, algumas de autores anónimos e também os retratos de estúdio. A presença ainda de algumas fotografias da coleção da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, dos “Sinais dos Expostos”, que houve oportunidade de ver na exposição “Visitação: o Arquivo: Memória e Promessa”, naquela instituição (10.07 – 02.11.2004).
Resistindo à tentação de rever toda a exposição, eis algumas imagens, umas conhecidas, outras nem tanto…
Cifka, que chegou a Portugal por ocasião do casamento de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha com a Rainha D. Maria II, foi o responsável por um dos primeiros daguerreótipos de paisagens de Portugal:
Wenceslau Cifka (atribuído), Châteaux de Sintra, 1848, daguerreótipo, Col. Centro Português de Fotografia.
E William Flower, inglês que se fixou no norte, como amador, foi responsável por um importante núcleo de fotografias do país, de monumentos, paisagens e natureza, que este Museu mostrou (29.06-31.08.1994):
Frederick William Flower, Coimbrões. Pinheiros mansos, 1849-1859, Planotipo (c. 1890) a partir do calotipo original (este o negativo, ambos expostos), Depósito Família Flower / Arquivo de Documentação Fotográfica / DDCI/ DGPC
Na Madeira, Camacho fixa a paisagem natural da ilha, tendo o homem como escala:
João Francisco Camacho, Ilha da Madeira. Costa Norte, 1865 – 1875, Arquivo de Documentação Fotográfica / DDCI/DGPC
Ou do continente, aqui Carlos Relvas:
Carlos Relvas, Queda de água, c.1867-1869, fototipia, 12 x 16.6 cm, Coleção Casa Museu Carlos Relvas, inv. 5019
As imagens panorâmicas também revestiam interesse, obtidas pela colagem de diversas imagens sucessivas:
Francisco Rocchini, [panorâmica de Lisboa, tirada do jardim de São Pedro de Alcântara], 1858 – 1893, seis provas em albumina montadas em cartão, 22.2 x 173.5 cm, Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico, inv. PT/AMLSB/ORI/00
As grandes construções, o avanço técnico do séc. XIX, não podia deixar de merecer a atenção dos fotógrafos:
Alfred Fillon, Ponte ferroviária sobre o rio Tejo, 1865 – 1885, Col. Biblioteca da Ajuda
Emílio Biel, no Porto, fotografou para muitas entidades, como a Companhia do Caminho de Ferro do Douro:
Emílio Biel, algumas fotografias do Caminho de Ferro do Douro
ou as grandes construções da sua cidade:
Emilio Biel, Ponte D. Luís. Tabuleiro central em construção, 1881-1886, Col. Palácio Nacional da Ajuda
Os retratos têm um importante papel, como o Dr. Lucas Fernandes Falcão, importante personalidade de Coimbra, no seu tempo:
Autor desconhecido, retrato do Dr. Lucas Fernandes Falcão, 1840-1850, Daguerreótipo, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra
A fotografia encontrou-se desde o início, acessível a todos; a própria família real gostava de fotografia, como a Rainha D. Maria Pia (1847-1911), que fotografava nos seus passeios, as paisagens e as figuras pitorescas:
Atribuído à Rainha D. Maria Pia, Azenhas do Mar (?) retrato de mendigo, 1898, albumina, 16.2 x 21.3 cm, Palácio Nacional da Ajuda, inv. 62307
A figura do mendigo era facilmente fotografada, Carlos Relvas, por seu lado, fotografava-os de modo cuidado, no seu estúdio da Golegã:
Carlos Relvas, Mendigo, 1875-1880, Col. Casa Museu Carlos Relvas
Por seu lado, as figuras reais eram fotografadas pelos principais fotógrafos, como Augusto Bobone:
Augusto Bobone, D. Carlos, Século XIX, Col. Arquivo de Documentação Fotográfica da DGPC
Augusto Bobone, Condessa de Bardi, 1880 – 1890, Arquivo de Documentação Fotográfica / DDCI/DGPC.
Alguns retratos eram especialmente cuidados e mostravam algo da personalidade do retratado, como este daguerreótipo de Alexandre Herculano:
João Baptista Ribeiro, Retrato de Alexandre Herculano, c. 1854. Daguerreótipo, 21 x 17 cm. Biblioteca Pública Municipal do Porto, inv. MA-Alexandre herculano-II-1.
E aqui fotografado de forma descontraída alguns anos mais tarde, reflexo, também, da evolução do retrato e da técnica:
Autor desconhecido, Retrato de Alexandre Herculano em Vale de Lobos, Santarém. Albumina, c. 1859-1870. 8×11.6 cm, Col. João José P. Edward Clode.
Alfredo Keil, compositor, poeta, colecionador de arte e artista:
Alfredo Keil, Retrato de estúdio, 1877, Depósito Família Keil do Amaral / Arquivo de Documentação Fotográfica /DDCI/DGPC
é um dos pintores do seu tempo que mais utilizou a fotografia como estudo para os seus quadros:
Alfredo Keil, Estudo fotográfico para a pintura “O vapor que passa: recordação do Cabo da Roca”, 1873, albumina, 8.9 x 10.6 cm /22.5 x 22.7 cm, Depósito Família Keil do Amaral / Arquivo de Documentação Fotográfica /DGPC
Os artistas eram também alvo dos fotógrafos, reconhecidos como figuras públicas:
C. da Rocha Phot., Lisboa [Joaquim Coelho da Rocha], Atores da peça Barba Azul (1868) Raimundo Queirós, Leoni, Isidoro, Taborda e Tasso, 1872, Arquivo de Documentação Fotográfica / DDCI/DGPC
Outras preciosidades estão presentes, como a “primeira utilização impressa em Portugal do processo” fotográfico:
Gravura do Palácio da Ajuda a partir de daguerreótipo, apresentado como a primeira utilização impressa em Portugal do processo in O Panorama – Jornal Litterario e Instructivo, volume V, 20 março 1841, p. 89. Arquivo de Documentação Fotográfica /DGPC
Ou a “Revista Pittoresca e Descriptiva de Portugal com vistas photográphicas”, do arquiteto Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806-1896), que viajou e fotografou uma parte significativa do nosso país:
Joaquim Possidónio Narciso da Silva, Revista Pittoresca e Descriptiva de Portugal com vistas photográphicas; Lisboa: Torre de São Vicente de belém, 1862, Papel salgado albuminado, 20 x 25,5 cm, Biblioteca da Ajuda, inv. 233-V, reg. 171.
E, entre outros, o Álbum do Tricentenário de Camões, de Henrique Nunes:
Henrique Nunes, Álbum do Tricentenário de Camões [10 de Junho de 1880], Monumento a Luís de Camões, Albumina, Biblioteca da Ajuda, inv. 123-III-40, reg. 5745-5756.
Uma exposição que merece um regresso para rever.
E entretanto, aguarda-se a publicação do catálogo, que será, com certeza, fantástico!
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