BFVFX14, CELEIRO DA PATRIARCAL, VILA FRANCA DE XIRA, 2014-15
O Celeiro da Patriarcal acolheu, mais uma vez, a Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (BFVFX), na sua 13.ª edição, quando comemora 25 anos de existência, na que é a grande apresentação da fotografia de autor, não profissional, realizada em Portugal. Estão presentes as escolas de fotografia, associações do Município e os fotógrafos que apresentam portfólio e cuja candidatura é aceite. A participação não é de uma fotografia, mas de um conjunto de seis (ou até seis) fotografias. O nível das participações é, pois, muito elevado.

Como vem sendo hábito, destaca-se além do tema geral, os temas Concelho de Vila Franca de Xira e Tauromaquia.
A exposição inaugurou a 15 de novembro de 2014 e esteve patente até ao passado dia 18 de janeiro.
Merece referência o catálogo que, tal como na edição de 2012, reproduz todas as fotografias expostas no âmbito da Bienal, bem como parte significativa das exposições paralelas.
Aqui fica o testemunho de algumas das participações selecionadas entre as 84 concorrentes, correndo o risco de deixar de fora algumas, também muito boas. Num próximo post, ficará o testemunho de outras. Seguimos basicamente o percurso da exposição.
Maria Gomes leva-nos através das linhas do metro ou do comboio a fazer uma viagem diferente (apesar dos reflexos do espaço da exposição…):

Maria Gomes
Carina Martins vai dentro da carruagem, mostra-nos o detalhe, onde os olhos vão pousando ao longo da viagem:
Carina Martins
Filipe Condado mostra outro interior, intimista, da casa, dos espaços e das coisas que vão ficando, que se reencontram no regresso, como nas fotografias dos espaços familiares de William Eggleston:
Débora Durão vive no interior da casa, um espaço de intimidade, privado, recolhido, sentido na proximidade:
Agora o espaço é outro, em Lisboa, e as imagens de Rui Fabião dão a data e o período (manhã ou tarde) em que os visitantes se encontravam no Museu, um olhar diferente do de Thomas Struth, não tão centrado no objeto expositivo e da relação do visitante com ele, mas no próprio visitante em relação com o espaço do museu:
Rui Fabião
Saímos de novo para a rua, Vítor Cid passa pelos espaços e pelas pessoas que habitam esses espaços, que o fazem seu, vê do exterior:
Paulo Fernandes Pedroso entra na casa, mostra-nos o espaço habitado e a pessoa:
Paulo Fernandes Pedroso
mas J. Pedro Martins entra nos espaços abandonados, ocupados, mostra o lado marginal:
Tauromaquia.
O mundo do touro e das touradas está presente no espírito de Vila Franca e da lezíria que se estende junto e ao longo do Tejo, justifica a escolha como tema.
Nuno Almeida acompanha a chegada dos toiros, conduzidos pelos campinos, onde cada um se pode atrever a desafiar o animal:
Carlos Ascensão (menção honrosa) mostra o recinto provisório, montado em campo aberto, onde cada um pode mostrar a sua valentia:
Carlos Ascensão
Pedro Batalha mostra-nos a faena na arena, o matador e a lide a capote:
que Nuno Alão, juntamente com outras lides, transforma num bailado, de homens e cavalo e touro:
Nuno Moura (1.º prémio tauromaquia) centra-se na pessoa do toureiro ou do forcado ou do curioso, em vários momentos de Rituals of bravery, rituais da lide:
Nuno Moura, Rituals of bravery
E Ana Filipa Scarpa acompanh-nos às tascas e cafés onde a tauromaquia predomina nas recordações que enchem as paredes, o ambiente e as conversas, espaço essencialmente masculino, onde se senta, se joga, conversa e bebe em amena cavaqueira e amizade e se partilham os momentos importantes da festa:
O Concelho. Das fotografias do Concelho, o prémio foi para Tiago Lopes, com um olhar diverso sobre a periferia industrial, agrícola, urbana: periferia de paisagem e de gente, em olhares mais ou menos amplos:
Tiago Lopes
Ao contrário do olhar próximo e quase familiar de Bruno Mendes (MEF, menção honrosa), que no bairro fotografa os seus residentes, da pequena rua, que identifica com o nome, a idade e os anos em que mora no bairro – quase toda a vida, para alguns:
Bruno Mendes
Bruno Mendes, “Ana Mirão, 52 anos, vive há 50 anos no bairro”
João Carlos Neves fica por outro intimismo, mostra o espaço da cavalariça – que o cavalo é um animal fundamental para lidar com o touro, nomeadamente nos campos; numa presença indireta, estão presentes os cavalos e os homens, mas nunca lhes vemos o rosto nem a expressão:
João Carlos Neves
Continuamos com fotografias do concelho. Assim acreditamos… O grande prémio da Bienal foi para a participação de Luísa Baeta (Lisboa, 1972; IPF) com “Rio (da série Long Piece)”: as fotografias mostram o rio através do nevoeiro. O nevoeiro é denso. As imagens ficam, pois, no nevoeiro e não chegamos a ver o rio. Acreditamos que o rio está lá. Ou será a lezíria, ou…? Questiona-nos pois o fundamento da fotografia: o que foi fotografado, o que mostra, o que vemos, o que acreditamos… Qual a verdade da imagem?
Luísa Baeta, Rio (da série Long Piece)
Estas imagens lembram as fotografias da série Seascapes de Hiroshi Sugimoto, embora nas imagens do japonês vemos o mar em primeiro plano, prolongando-se até um infinito mais ou menos distante: nuns casos, a linha do horizonte, noutros o nevoeiro ou a neblina que se eleva.
Os olhares continuam na paisagem. Mafalda Marta mostra os seus lugares de infância, regressa aos seus lugares da família e da sua história, na paisagem do campo,
é também esta paisagem que se sente familiar nas fotografias de Isabel Guedes Pereira (menção honrosa): mostra a paisagem ao longo do caminho, destacando-se o recorte das árvores – dos pinheiros bravos, mas também dos ciprestes – contra um céu azul de entardecer; constrói uma paisagem de memória, de passagem (são quase imagens a preto e azul):
Isabel Guedes Pereira
e é numa passagem noturna pelos caminhos que atravessam o campo que Fábio M. Roque regista o seu olhar, a preto e branco, numa proximidade aparente:
Fábio M. Roque
e é também no preto e branco próximo e no espaço do campo que Sandra Osório (APAF) esconde (ou descobre) os seus personagens.
Sandra Osório
Com Rui Diogo Castela (APAF) regressa a cor, afasta-se para a paisagem transformada, as construções e objetos que fazem ou alteram a paisagem:
Rui Diogo Castela
Os sinais da presença humana estão nas construções que Mário Atalayão Valença mostra, os espaços exteriores e interiores de uma vivência, sentidos (quase) como uma ausência:
Mário Atalayão Valença
Regressar a casa, à casa de cada um, Patricia Cardoso (IPF) entra na intimidade das pessoas que retrata nos seus espaços de casa, no seu mundo:
Patricia Cardoso
e a intimidade dos espaços que já foram – e ainda são – habitados, no olhar de Álvaro Mendes (GART):
Álvaro Mendes
Uma pausa… Ou talvez não. 40 x 40, a participação de 40 fotógrafos da
AAPCVFX – Associação dos Artistas Plásticos do Concelho de Vila Franca de Xira
Em contraste ou complemento com este painel… Surge agora um conjunto de composições de múltiplas fotografias, de encontros: almoços, festa, amigos, a descontração, o peixe assado, o copo de vinho, também os toiros (garraios), pelas fotografias de Ormond Fannon (SNBA), que nos lembram de algum modo as imagens de David Hokney; Fannon contudo respeita cada fotografia, cada imagem, sem sobrepor impressões, criando como que paineis de azulejos fotográficos:
Ormond Fannon
Os retratos continuam, com diferentes olhares e dramatizações, quase desenhados como os de Miguel Dias Ferreira (Oficina da Imagem):
Miguel Dias Ferreira
que contrastam com os retratos individuais ou de grupo, como que “de passagem” de Félix Gartner (IADE-U):
Félix Gartner
Ou as paisagens de Sofia Lobato (Oficina da Imagem), quase mágicas de tão adensadas, como se a fotografia é apenas um suporte:
Sofia Lobato
ou as naturezas de Bárbara Atanásio (IADE-U): as plantas são mostradas no cocuruto da árvore e no detalhe da folha ou do pequeno ramo, envolvido em branco, como que uma pureza, uma genuinidade, a proteger:
Bárbara Atanásio
Brancas são também as ferramentas de Mafalda Domingos (ETIC), fotografadas sobre branco. como as composições em branco de Manuel Magalhães, dos anos 80, mas aqui como imagens individuais dos instrumentos de trabalho, habitualmente escuros, sujos, pesados…
Mafalda Domingos
Em contraste, o painel de 7×7 de Catarina Silva (ETIC), apresenta no fundo negro de cada fragmento um objeto produzido, fabricado, transformado…
Catarina Silva
Sara Faro (Ar.Co) mostra as mãos, que trabalham, dançam, aplaudem, fazem…
Sara Faro
e Gastão Fiandeiro (Ar.Co) mostra o universo e a criação, do muito grande ao pequeno:
Gastão Fiandeiro
Nana da Figueira (MAUMAUS) faz um percurso através de imagens que parecem encontradas, numa narrativa visual através de imagens do quotidiano, do que reparamos ao andar pela cidade, nos pequenos fragmentos que ficam na nossa memória: envolvida pelo branco, os espaços, a paisagem, as pessoas, os gestos… momentos:
Nana da Figueira
E deste pequeno, passamos para os grandes painéis da paisagem urbana, da construção da cidade que Marcelo Menescal Dantas (SNBA) destaca da cidade:
Marcelo Menescal Dantas
E são também momentos, que o MEF – Movimento de Expressão Fotográfica apresenta em caixa de luz, como uma película de 35 mm que absorve toda a vida, todo o olhar, toda a memória, para além da fronteira de uma 24×36 mm, até ao extremo, para além da perfuração…
Movimento de Expressão Fotográfica (MEF)
Até 2016…


























































