JOÃO ANTÓNIO FAZENDA, COMPASSO DE ESPERA

Exposição na Biblioteca dos Coruchéus, em Lisboa, de 2 de maio a 15 de junho de 2024.

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Viver uma pandemia

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A pandemia do Covid-19 mexeu com todos nós. Mexeu também comigo. Disso venho dar conta nesta exposição. Claro que não de uma forma explícita, mas figurada, através das minhas fotografias.

“Compasso de Espera” foi o título que lhe dei, pois esta pandemia fez-nos parar no tempo agitado em que vivemos neste primeiro século do terceiro milénio. Obrigou-nos a parar. Por medo? Por segurança? Por imperativo de sobrevivência? Por tudo isso. Mas todos esperávamos ouvir dizer: a vida segue dentro de momentos. Só que nem todos o conseguiram.

A nossa fragilidade ficou bem patente e nem os avanços tecnológicos de que nos orgulhamos tanto nos precaveram de uma tão grande calamidade, nem nos evitaram as marcas deixadas por uma doença tão agressiva que irão perdurar por gerações.

Apesar de tudo, prevalecemos. Mas o mundo não ficou igual para os que sobreviveram. As desigualdades na espécie humana, que já eram gritantes, acentuaram-se mais. Entre povos, entre gerações, entre pessoas.

Há também hoje uma loucura de destruição à solta no mundo e sinais persistentes de desvalorização da vida humana. Não acordámos com a pandemia para a urgência da cooperação na salvação do planeta, na criação de condições de habitabilidade e de desenvolvimento para todos os homens e na sustentabilidade dos ecossistemas interdependentes que vivem na Terra.

Há, portanto, que recentrar a nossa ação nesses objetivos, para garantir um futuro para a Terra e para todos os seres que a habitam.

Nesta exposição reflito sobre o que experienciei, pensei e senti nestes três anos da pandemia do Covid-19. É evidente que não está nela tudo pelo que passei, em termos de vida pessoal e familiar. Mas, através da fotografia, o meu meio de expressão artístico de há mais de cinquenta anos, quis dar um testemunho do que foi viver em pandemia. Desde os dias de confinamento, em que a fotografia ficou circunscrita ao espaço da casa, aos seus horizontes e objetos, ou quanto muito aos arruamentos próximos, até aos períodos de desconfinamento onde mesmo assim a terrível ameaça pesava sobre todos nós.

A minha existência prosseguiu, o meu percurso continua depois da pandemia. Procuro, porém, compreender o que se passou. “Existir é compreender “, já o dizia o grande escritor Victor Hugo, em livro de 1867. “Existir é saber o que se vale, o que se pode e o que se deve. Existência é consciência.”

Ora precisamente um dos sítios onde fui nos derradeiros tempos da pandemia foi Finisterra, na Galiza. Senti-me aí simbolicamente no fim de um período difícil da minha vida, ansiando, como os muitos caminheiros que ali chegam e dali partem, por um novo e melhor amanhã, com mais consciência das minhas capacidades, possibilidades e responsabilidades.

Foi aí também que, num restaurante à beira-mar, li na parede um aforismo do filósofo chinês Confúcio: “Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer”.

Compreendi então que já vem de longe (isto é, do século V a.C.) a sabedoria de que o homem tem de saber adaptar-se às mais diferentes situações que a vida lhe proporciona, mesmo às mais difíceis e inesperadas, aprender com isso, reorganizar-se e continuar a caminhada.

É o que toda a Humanidade devia estar a fazer após esta pandemia e após o compasso de espera a que ela nos obrigou.

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João António Fazenda

Abril 2024

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João António Fazenda, Compasso de espera

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A exposição de João António Fazenda, “Compasso de espera”, está patente na Biblioteca dos Coruchéus, na R. Alberto de Oliveira, em Lisboa, de 2 de maio a 15 de junho de 2024.

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João António Fazenda (Faro, 1947).

Em 1962, faz as primeiras fotografias com uma Kodak de fole. Adquire uma câmara reflex Pentax em Hong Kong, na viagem de fim de curso, em 1970, ano em que entra para sócio do Foto-Club 6×6 em Lisboa; entre 1971/73 é membro da Direção do Foto-Club 6×6, depois APAF – Associação Portuguesa de Arte Fotográfica.

Em 1970, a primeira exposição individual – Genesis, Foto-Clube 6×6, a que se seguem Continuum (1974) e Vivências [1976), APAF; entre 1971 e 1980 participa em numerosas exposições coletivas, de que se salienta a 1.ª Exposição Luso-Brasileira de Fotografia, Évora (1972), Portugal Um Ano de Revolução 25 de Abril (1975), Inter-Foto Mallorca, Palma de Maiorca (1976), 2.º Salão Inter-Associações Porto/Coimbra/Lisboa (1979). Fotografia Portuguesa Contemporânea – 1.ºs Encontros de Fotografia de Coimbra (1980).

Faz o Curso de Fotografia dos Serviços Cartográficos do Exército (1974/75) e ente 1971 e 1994 dá formação em fotografia em clubes juvenis, residências universitárias, Instituto Português de Fotografia, Polícia Judiciária, Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Obtém prémios em concursos nacionais e internacionais de arte fotográfica (Igualada/Espanha, Zadar/Jugostávia, Rio de Janeiro, Lisboa. Setúbal, Estoril, Bragança, Silves, Zambézia/Moçambique, Póvoa do Varzim) 1971/77.

Entre 1980 e 2006 não deixa de fotografar mas não expõe nem divulga (fase do Nim), com as únicas exceções da exposição Degrau a Degrau, Escola Superior de Teatro e Cinema, Amadora (1998) e Melhor Fotografia de carater institucional do Concurso do IPL – Instituto Politécnico de Lisboa (2004).

Desde 2006 que realiza várias exposições individuais.

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Pode conhecer mais sobre a obra de João António Fazenda no FF, aqui.

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Cortesia: João António Fazenda

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