PAULA LOURENÇO E SOFIA SILVA, ONTEM A LUA TAPOU O SOL
A exposição integra a 3.ª edição do ANALÓGICA – Festival de Fotografia 2023, encontra-se na Galeria Municipal, na Chamusca, de 23 de setembro a 28 de outubro de 2023.
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A FÁBULA
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Cai a noite na floresta. A lua medra. Não cabe no céu. Aninhada num rochedo, uma raposa desperta para o silêncio. Respondendo ao crepitar mágico das nuvens, aventura-se por entre a escuridão. Folhas jurássicas agigantam-se e desenham uma encosta ao mesmo tempo fresca e densa. A raposa recolhe os seus ontens e afasta-se da colina. Mantem-se no caminho e procura protecção num sobreiro grande que a abraça. Encostado a um medronheiro, o sobreiro lança a raposa em direcção ao fogo. Ela esbarra nos medronhos e alimenta-se. Regozija-se. Ri. Uma luz interna brota e as pupilas dilatam. Acantos, varas-de-ouro, papoilas de outra estação, tremoceiros de outros tempos, chamam-na. O estômago expande e enche-se de maçãs. No meio de um pomar, encostada ao tronco de uma macieira, a raposa avista as fadas da floresta. Segue-as. Um porco aguarda-a. Quer falar-lhe de um carvalho e juntos prosseguem caminho. Ao avançar, sentem que as patas vão esticando o tempo da terra que pisam e o presente ilumina uma clareira de carvalhos onde finalmente se detêm. O porco entrega uma bolota de carvalho à raposa e conta-lhe histórias de bem-aventurança, deixando a promessa de que, debaixo daquele carvalho, haverá sempre luz. Ali, naquela clareira, numa noite de Outono, a raposa compreende finalmente a extensão do seu corpo e espreguiça-se.
Noutra encosta, um lobo espera que a noite chegue, mas ela não vem. Recolhido por uma família de salgueiros, partilham a margem do rio. O vento-gralha uiva e pede à Lua que reúna a alcateia. Conformado com o efeito-noite que essa solidão lhe traz, o lobo atravessa o rio, que espelha a violência de um astro que só parece saber revelar. Enquanto dança à procura do lado escuro do sol, o lobo sente a magia repentina de uma mulher que tem guardada dentro de si. Semicerra os olhos, sente o calor no seu ventre e sorri. A gralha prossegue a chamada, mas o lobo dispensa-a. Tem dentro de si a via láctea e sabe onde vai. Com o sol, às claras, evita a vegetação e enterra as patas na lama. Regozija-se. Aí, sabe, encontrará comida. Mas, enquanto ela não vem e a Lua não chega, vai desenhando formas, cobrindo as pedras de húmus e metamorfoseando o seu pelo. A chamada de um salgueiro ressoa na sua pele molhada e, nesse momento, o lobo abraça a sua natureza gentil e recolhe à família, que lhe oferece um festim de estrelas dançantes. Limbos inteiros e estreitos animam o chão e acalmam a fome do lobo. Ali, naquela clareira, numa noite de Outono, o lobo aprende finalmente a ouvir o seu coração e adormece.
A exposição Ontem a Lua tapou o Sol, patente na Galeria Municipal da Chamusca, ao abrigo do Festival Analógica 2023, reúne um conjunto de obras fotográficas criadas desde 2020, que resultam de um processo de imersão e conexão com os ritmos simbióticos da natureza.
As obras foram nascendo de processos de criação e impressão lentos, recorrendo a diversas técnicas, ferramentas e processos (papel salgado, cianotipia, luminogramas, etc.). Embora a maioria das imagens aqui apresentadas passe por processos de impressão por contacto com elementos naturais (plantas, conchas, terra, pedras, etc.), essa é apenas uma das etapas, seguindo-se-lhe uma série de processos de manipulação química e, por vezes, duplas e triplas exposições, cruzamento de processos, frequentemente recorrendo a modificadores de cor também eles fabricados a partir dos despojos das estações.
A fotografia-sem-câmara, bem como o conceito de fotografia lenta, vão-se tornando cada vez mais inteiros, iluminando os motivos pelos quais nos vamos afastando de uma ideia de fotografia que se sujeita ao visor, ao enquadramento, mas, sobretudo, a uma ideia de real que se desenha para lá de uma tecnologia que faz a mediação. Fazemos fotografia, mas dispensamos cada vez mais a câmara. Interessam-nos as imagens internas e o modo como as emoções e o sentir orientam a nossa percepção das energias empáticas que existem no universo.
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23 de Setembro de 2023 (Equinócio de Outono)
Paula Lourenço e Sofia Silva
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2023
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António Bracons, Na inauguração: Cláudia Moreira e Paulo Queimado (vice-presidente e presidente da Câmara Municipal da Chamusca), Isabel Dantas dos Reis (Analógica), Sofia Silva, Paula Lourenço e Luís Pavão, 23.09.2023
António Bracons, Sofia Silva, Paula Lourenço (e Luís Pavão), 23.09.2023
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A exposição “Ontem a Lua tapou o Sol”, de Paula Lourenço e Sofia Silva, integra a 3.ª edição do ANALÓGICA – Festival de Fotografia 2023, na Chamusca, encontra-se na Galeria Municipal, no edifício do Município, R. Direita de São Pedro, de 23 de setembro a 28 de outubro de 2023.
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Paula Lourenço e Sofia Silva, são associadas fundadoras da Tira-Olhos, Associação de Fotografia Experimental.
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A Tira-Olhos – Associação de Fotografia Experimental, é um espaço de partilha de fazeres e saberes ligados à expressão fotográfica, com particular interesse numa fotografia lenta, experimental e sem-câmara.
Instalando-se na freguesia da Penha de França, em Lisboa, a Tira-Olhos desenvolve um trabalho de proximidade com amadores, artistas e artesãos, tendo por objectivo promover, disseminar e ensinar técnicas experimentais e artesanais ligadas à expressão fotográfica.
Ao longo de vários anos – quer na actividade que desenvolvemos enquanto docentes, quer nas nossas práticas individuais -, es associados fundadores da Associação foram consolidando a vontade e a necessidade de encontrar um espaço que permitisse a partilha dos seus modos de fazer.
A Associação abriu o atelier e laboratório em Julho de 2019, começando nos meses seguintes a promover actividades ligadas à prática artesanal da fotografia, convidando também outres artistas e experimentalistas.
Em 2021, a Tira-Olhos aventurou-se na organização de um festival de fotografia lenta – a LESMA -, ocupando durante 3 dias a Cooperativa centenária A Padaria do Povo, que se encheu de experimentalistas.
Actualmente a Tira-Olhos serve de atelier-base a duas associadas fundadoras: Paula Lourenço e Sofia Silva. Ao longo do ano, promovem várias oficinas dentro e fora de portas, trabalhando também em projectos autorais e em colaborações com outros artistas e instituições.
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Pode conhecer mais sobre as autoras e a Tira-Olhos, no FF, aqui e no site, aqui.
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