SUSANA PAIVA E FERNANDO MOTA, DO PRINCÍPIO DO MUNDO

Exposição no Convento dos Capuchos, na Caparica, de 9 de setembro a 28 de outubro de 2023.

.

.

.

Com a sonoridade de Fernando Mota, Susana Paiva expõe uma série composta de quimigramas e fotografias a preto e branco. do Princípio do Mundo.

.

.

Fernando Mota escreve:

.

do Princípio do Mundo é um projecto de colaboração entre Fernando Mota e sete fotógrafos, desenvolvido em sete residências artísticas em diferentes regiões de Portugal. Cruza a pesquisa sonora e musical com as artes visuais, resultando numa instalação audio-visual, num concerto e num passeio sonoro em cada um dos locais. As instalações audio-visuais consistem no diálogo entre as imagens e as peças sonoras desenvolvidas a partir dos mesmos elementos naturais de cada local.

Em Almada trabalhámos com a fotógrafa Susana Paiva. Durante uma semana em Julho de 2022 recolhemos na Mata dos Medos os materiais naturais e os sons que deram origem às imagens e à peça sonora desta instalação. Procurámos manter o espanto no olhar e no ouvir, como se esses elementos pertencessem a um planeta que desconhecemos.

Esta instalação é a última das sete que compõem este projecto a ser apresentada, sendo que a residência artística na Mata dos Medos que a originou foi a primeira a ser realizada. Assim, com esta apresentação fechamos um ciclo de vários meses de pesquisa e criação, durante o qual passámos por territórios tão distintos quanto inspiradores para aquilo que fomos desenhando com cada um dos artistas visuais  que desafiámos para estas viagens.

Todos os sons que compõem esta peça sonora foram gerados e/ou gravados na Mata dos Medos durante a semana de residência e mais tarde editados e transformados em estúdio. Grande parte da música foi criada através da manipulação e transformação de um grande pedaço de um pinheiro que havia sido cortado no meio da mata e aí jazia junto de uma série de fatias do seu tronco gigante. (Percebemos mais tarde que teria sido abatido por se encontrar doente). Prendendo-lhe dois microfones de contacto, começámos por arrastá-lo pelos caminhos de areia da mata, tocar nos seus ramos como se tratasse de uma kalimba e finalmente esticando e afinando as cordas que ouvimos nos elementos mais melódicos desta peça. Devido à sua madeira estar doente fomos obrigados a deixá-lo na mata mas de alguma forma está presente nesta sala através dos movimentos e sons que foram gerados para compôr esta música. Onde o deixámos ficou à espera que alguém o encontre e se questione porque terá nascido uma harpa entre os seus ramos.

Esta peça é sobretudo acerca do tempo, de um tempo estendido, dilatado. Por isso grande parte dos elementos que a compõem foram eles mesmo esticados até deixarem de ser reconhecíveis, dez vezes mais lentos, vinte vezes mais lentos, por vezes regressando atrás, a percussão na madeira e o arrastar na areia tornando-se no movimento das placas tectónicas que geraram estas arribas há 10 milhões de anos. Também é sobre procurar o invisível e o inaudível. O oculto. Por isso gravámos as vozes das formigas e por duas vezes voltámos à mata às quatro da madrugada para gravar a sua fauna sem ser perturbada pela actividade do animal humano.

Mais do que o espírito do lugar interessou-nos o desenhar de um outro espaço. Imaginário.

.

.

Susana Paiva, do Princípio do Mundo

.

.

A exposição é para ser vista com a sonoridade de Fernando Mota:

.

.

António Bracons, Aspetos da exposição, 2023

 .

.

.

A exposição “do Princípio do Mundo”, com fotografia de Susana Paiva e sonoridade de Fernando Mota está patente no Convento dos Capuchos, na Rua Lourenço Pires de Távora, na Caparica, de 09 de setembro a 28 de outubro de 2023.

No dia 9 de setembro, teve lugar um passeio sonoro e um concerto.

.

.

.

Cada apresentação do projeto “do Princípio do Mundo”, é composta por uma instalação, um concerto e um passeio sonoro:

.

Instalação

Cada instalação é o resultado de uma residência artística desenvolvida por Fernando Mota e um fotógrafo num espaço natural a partir dos elementos e matérias que aí encontraram, na qual procuraram olhar para cada matéria com espanto, como se o local pertencesse a um planeta desconhecido. A partir da realidade chegar ao fantástico. A colecção de peças sonoras e imagens que os dois artistas criaram em diálogo foram também inspiradas pela teoria da Harmonia das Esferas de Pitágoras, que nos diz que tudo no Universo vibra a uma dada frequência, que toda a matéria é vibração. Os astros produzem uma vibração com o seu movimento: a música das esferas. No princípio era o som.

.

Concerto

O Concerto do Princípio do Mundo junta instrumentos musicais experimentais criados a partir de árvores, rochas e outros materiais naturais a um conjunto de pesquisas e técnicas desenvolvidas durante as residências deste projecto, que procuram gerar música e expressão sonora através da manipulação da água, da terra, do vento e de vários elementos e matérias da natureza. Cada vez mais há um carácter espiritual e ritualista no trabalho de Fernando Mota, utilizando os instrumentos e objectos sonoros que constrói enquanto ferramentas para criar espaços de evocação e transcendência.

.

Passeio Sonoro

Um passeio sonoro é uma caminhada focada em ouvir o meio ambiente. O termo foi usado pela primeira vez pelo compositor R. Murray Schafer, nos anos 70. A forma como Fernando Mota concebe esta actividade, muito inspirada por todo o pensamento de John Cage acerca da nossa percepção do som, é orientada para a fruição dos sons independentemente da sua origem, como se pertencessem a uma composição musical, gerada pelo caminho traçado. O percurso é a partitura.

.

.

.

Susana Paiva [ Moçambique, 1970 ] 

Reside e trabalha em Lisboa.

Criadora, performer, editora e produtora de projectos e eventos na área das Artes Visuais. 

Residências Artísticas nos “Rencontres de la Jeune Photographie Internationale” [ Niort ] na Ferme d’en Haut [ Lille ] e na “Cité U” [ Paris ], em França. 

Residências Artísticas em “Pedra Sina Residence” [ Funchal ], na Córtex Frontal [ Arraiolos ] e na RAMA [ Maceira ], em Portugal. 

Exposição Individual “Corpo Volátil” no Centro Cutural de Belém, em Lisboa, Portugal. 

Exposição Individual nos “6ème Rencontre Internationale de la Photographie, em Ghar El Melh”, Tunísia. 

Exposição Individual “What remains – a invenção da memoria” no Mês da Fotografia do Barreiro, Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, Portugal. 

Exposição Individual “Lugar de mim” na Casa da Escrita, em Coimbra, Portugal. 

Exposição individual “Unidade mínima” no Centro Interpretativo do tapete de Arraiolos , em Arraiolos, Portugal. 

Coordenação da Exposição de Artes Visuais “Aproximar-nos do Caos [com umas lentes que permitam ver melhor o que isso é] na Galeria ACERT, em Tondela, Portugal. 

Apresentação do projecto performativo “Anatomia de uma imagem [uma instalação habitada]” no âmbito do Festival CITEMOR 2019, Montemor-o-Velho, Portugal. 

Coordenadora pedagógica do IMAGO Lisboa Photo Festival e responsável pelo Lisboa Meeting Point – evento de leitura de Portfolios do referido Festival. 

.

.

Fernando Mota [ Lisboa, 1973 ] 

Reside e trabalha em Lisboa.

Artista multi-disciplinar

No seu percurso tem vindo a desenvolver uma linguagem multidisciplinar, juntando a música, o teatro, as artes visuais e a poesia na criação de objectos de naturezas diversas como espectáculos, instalações, filmes e edições várias. O seu universo resulta do cruzamento de diversas linguagens, geografias e ferramentas bem como da constante exploração sonora e da construção de instrumentos experimentais e objetos sonoros a partir de materiais diversos.

Compõe regularmente música para teatro, dança e cinema de animação, tendo colaborado com diversos diretores, companhias e produtoras.

No início de 2020 começou um ciclo de criações à volta de instrumentos musicais e objectos sonoros construídos a partir de árvores, pedras e outros elementos naturais. O primeiro dos objectos a ser criado foi o Concerto para uma Árvore, seguido por 7 Poemas para um Mundo Novo, um conjunto de sete curtas metragens que dirigiu com o realizador Mário Melo Costa, a partir de textos inéditos de Andreia C. Faria, António Barahona, Joana Bértholo, José Luís Peixoto, Marcos Foz e Vasco Gato e um poema de Mário Cesariny, inspirados na pandemia e no Mundo que virá a seguir. Em 2021 estreou o espectáculo multidisciplinar Passagem Secreta, com texto de Vasco Gato e videos de Mário Melo Costa, a partir da pesquisa acerca do sistema de comunicação das árvores através das raízes e dos conceitos de pertença e comunidade.

Neste momento encontra-se a desenvolver Do princípio do Mundo, um projecto criado em sete residências artísticas em diferentes regiões de Portugal, que cruza a música e a pesquisa sonora com as artes visuais, resultando num concerto, numa instalação audio-visual e num passeio sonoro em cada um dos sete locais. Cada um dos objectos será desenvolvido a partir da pesquisa dos elementos naturais de cada local, segundo o método de composição Sursum Corda, inspirado pela  teoria pitagórica da Harmonia das Esferas e pela expressão Nada Brahma, dos Vedas indianos, que pode ser traduzida por traduzida por “o Mundo é Som”.

.

.

.

Pode conhecer melhor a obra de Susana Paiva, no FF, aqui e no seu site, aqui.

Pode conhecer melhor a obra de Fernando Mota, aqui e sobre esta série aqui.

.

Cortesia: Susana Paiva.

.

.

.