LOIS CID, ESTRUTURAS DE FUSIÓN

A exposição integra o IMAGO LISBOA Photo Festival, na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, de 8 de setembro a 7 de outubro de 2023.

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(…) «Estruturas de fusión» é um projecto que indaga espaços em construção como se fossem um jazigo arqueológico para analisar os resíduos que ficam depois do levantamento de um edifício, relacionando-os com os entulhos gerados pelo derrubamento de antigos prédios. Desde uma perspectiva material, os caminhos e explorações que partem da prática arqueológica, a prática artística de Lois Cid foca-se na análise dos vencelhos entre a materialidade, os conceitos de valor e as relações sócio-espaciais. Sob uma lógica de recolha – ou recuperação –, a sua obra negocia com o que se concebe como descartado ou silenciado para problematizar ideias sobre segregação, esquecimento e alteridade. Nesta diatribe, apresenta-nos conceitos ligados à temporalidade, à instabilidade e à disfuncionalidade, chegando a tornar os processos de construção e colapso numa mesma entidade difícil de diferenciar. 

Nesse meticuloso trabalho de campo, Lois decide visibilizar fragmentos redesenhados e materialidades dispersas, para trazer à tona certas contrapropostas através de uma alternativa à abstração. A partir da proximidade, combate o binarismo que separa o periférico do central ao brincar com uma heterogeneidade complexa que habita no popular contemporâneo, com uma certa singeleza com a qual poderíamos nomear os novos non-objectualismos(1) . Este enigma reconsidera a relação dos objectos e das imagens e os possíveis correlatos da sua valorização no pensamento contemporâneo desbordado pelo consumo, a empresarialidade, o reconhecimento, a efemeridade do tempo e a territorialidade. (…)

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Lois Cid, Estruturas de Fusión

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2023

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As exposições do IMAGO LISBOA Photo Festival iniciaram-se nesta 5.ª edição, com a série de Lois Cid, “Estruturas de Fusión” – Prémio Galícia de Fotografía Contemporânea; e os projetos de Lara Jacinto, “Paraíso” e “The Territory”, de Maria Gruzdeva (que mostro na próxima publicação, aqui), patentes na sala Fernando Azevedo da SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, na Rua Barata Salgueiro, 36, em Lisboa, de 8 de setembro a 7 de outubro de 2023.

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Sobre a presente edição do IMAGO LISBOA Photo Festival escrevem os curadores:

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APRESENTAÇÃO

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Chegámos à 5ª edição. De repente passaram cinco anos desde a primeira edição do Imago Lisboa. Ao longo deste período fomos estabelecendo várias parcerias e colaborações, quer individual, quer coletivamente, com diversas entidades ligadas à fotografia.

No âmbito dos nossos objetivos, criámos na capital, um acontecimento regular que tem aberto portas a todos que, mutuamente, connosco querem colaborar na divulgação e reflexão da fotografia de autor.

Apresentámos exposições inéditas de autores internacionalmente conhecidos e que, pela primeira vez vieram a Portugal. Temos exposto valores emergentes da fotografia internacional a par de reconhecidos autores nacionais. Temos, enfim, contribuído para o debate e reflexão de diversos temas da fotografia contemporânea.

Esta edição que agora se apresenta, desenvolve-se no quadro do EMOP (European Month of Photography) estrutura que o Imago Lisboa integra. O projeto comum do EMOP desenvolve-se, este ano, sob o conceito de Repensar a Identidade (Rethinking Identity). É um conceito abrangente e que, para além de explorar a identidade humana, circula também pela identidade cultural e territorial.

A par dos diversos núcleos expositivos temos um conjunto de atividades que, de modo natural, acompanham um festival: atividades formativas, dirigidas a várias ascendências sociais e níveis etários; mostras de livros de fotografia; conferências, debates informais e projeções, completam a programação que desejamos seja do agrado público em geral e, em particular, daqueles que têm as questões da fotografia como foco.

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2. CONCEITO CURATORIAL

Repensar a identidade pode levar-nos por caminhos diferentes.

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Quando falamos de identidade, tendemos a pensar na identidade humana. Que tipo de características nos identificam? Exteriormente, apresentamos a nossa fisionomia e somos classificados de acordo com a cor da pele, sexo, cor dos olhos, penteado e assim por diante. Mas o conceito torna-se mais complexo quando passamos ao estado psicológico de um indivíduo. Com que nos identificamos? Que atributos identitários nos distinguem, quais rejeitamos, descartamos, quais queremos alterar ou dissolver? Aí, há um vasto conjunto de dimensões, que vão desde aspetos intrínsecos ao indivíduo, à educação recebida e ao processo de socialização. Assim, à identidade física de cada pessoa junta-se todo o conjunto de experiências, traumas, memórias e relações que constituem a identidade de cada um de nós. A identidade é construída à medida que o processo de socialização se desenvolve. Estabelecemos relações que nos influenciam, experiências e traumas que nos marcam.

No entanto, para além da identidade individual, podem ser abordadas outras tipologias deste conceito:

A identidade cultural que pode tomar forma em pequenas comunidades indígenas, em determinadas etnias ou mesmo em uma determinada identidade territorial. Podemos pensar, por exemplo, no povo Sami no norte da Europa, nas comunidades da Amazônia, nos aborígenes australianos ou mesmo nos bantu em África. No período colonial, várias nações europeias procuraram impor a sua cultura aos povos colonizados e, com essa política, anular a identidade cultural indígena. No entanto, muitas destas culturas resistiram e mantiveram, de forma patente ou camuflada, a sua identidade cultural, que sobreviveu através, por exemplo, da língua, das histórias, de alguns rituais ou costumes ancestrais. Hoje, grande parte do património cultural dos povos colonizados faz parte dos acervos dos museus europeus. Mas existem também, muitas vezes, pequenos objetos, com marcado valor simbólico, que são resgatados e relembrados nas práticas artísticas atuais.

Analogamente, existem diferentes identidades territoriais, que são consequência de fenómenos naturais ou da ação direta do homem no ambiente onde vive. A região ártica, a floresta tropical ou o deserto configuram diferentes identidades territoriais. Num mundo cada vez mais global, observamos que diferentes identidades vão perdendo a sua matriz original através de diferentes processos de contaminação que geram novas identidades.

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Curadores:

Delphine Dumont – Photo Brussels, Brussels

Emmanuelle Halkin – Circulation(s), Paris

Felix Hoffmann – FOTO WIEN, Vienna

Maren Lübbke-Tidow – EMOP Berlin, Berlin

Paul di Felice – EMOPLUX, Luxembourg

Rui Prata – Imago Lisboa photo festival, Lisboa

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A Agenda das exposições e eventos do IMAGO LISBOA Photo Festival 2023, no FF, aqui.

Mais informação no site da organização, aqui.

Sobre as edições anteriores no FF, aqui.

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Cortesia: IMAGO LISBOA Photo Festival.

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