FERNANDO RICARDO, MOMENTOS

Exposição retrospetiva, na Casa da Imprensa, em Lisboa, de 7 de setembro a 6 de outubro de 2023.

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O fotógrafo espanhol Antonio Sánchez-Barriga escreve na folha de sala:

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A linguagem fotográfica em Fernando Ricardo

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A indústria fotográfica mudou tanto desde os momentos fotográficos dos anos 70 até à actualidade que, para alguns só agora iniciados na actividade, aqueles lhes parecerão complicados e inauditos – tal como se entrassem no mundo do artesanato -. Bem, Fernando – que passou por tudo aquilo – merece para o seu trabalho o título “sem palavras”, tendo conseguido eliminar a diferença entre a língua falada/escrita e a imagem fotográfica, ambas unindo-se numa só fotografia. Os temas que Fernando expõe estão em contínua actualidade: o fogo, a fé, o trabalho, a notícia, numa etnografia pura que, infelizmente, vem sendo perdida e se perderá na noite dos tempos.

Se sobrevoarmos a fotografia de Fernando, a travessia da história nos converteria no seu anjo da guarda e assim poderíamos concluir que é um ortodoxo na sua forma de ver o mundo que o rodeia. O seu fascínio por aquelas necessidades da vida, aquilo que rejeitamos e aquilo em que nos gostaríamos de envolver – aquilo pelo qual verdadeiramente lutamos -: isto é o que vemos em cada uma das suas imagens, potentes, tridimensionais, permanentes no espaço e no tempo.

Qualquer uma das suas fotografias informa e esclarece, com uma única imagem, o olhar para o meio ambiente, não necessitando palavras – talvez uma data e um local – e isto, Fernando sabe-o perfeitamente. São anos de profissão e de luta repartidas por guerras, revoluções, desgraças, por aquilo que esteve sempre no foco das notícias. Pertencer a uma agência de notícias como a AP e, todavia, continuar vivo, faz-nos acreditar que é um totem no meio dos grandes fotógrafos.

Fernando procura a imagem integrada, não meras recordações de uma viagem, nem um passeio ao redor de… nem a banalidade de uma interpretação de algo que se passou ao seu – ou nosso – lado, mas a procura da notícia e portanto, da imagem fotográfica. Um significado que não altera a composição, nem o ritmo, nem a perspectiva, nem a estrutura, toda a imagem que ele nos proporciona está concretizada num contexto completo que parece escapar do interior da fotografia.

Como McLuhan insistia em The Medium is the Massage, “não há absolutamente nada que não possa evitar-se enquanto existir o desejo de contemplar o que está a ocorrer”. Embora possam ser estendidos os seus limites na fotografia e a sua plasmação na imprensa. Porque já McLuhan disse que a fotografia tem o condão de isolar o tempo num segundo, enquanto a escultura ou a pintura são intemporais. É verdade, podes acompanhar Fernando com a tua câmara e não distinguir o local onde ele se imobiliza e enquadra a imagem que ficará para sempre na sua retina e na sua memória. Tu que o segues e estás no mesmo lugar, não terás conseguido ver aquilo que ele entendeu e guardou para que ficasse permanentemente na história da vida.

Fernando conseguiu enriquecer o preto e branco fotográfico através da procura da realidade numa fracção de segundo. É uma antítese do discurso de vários sucessos numa só fotografia, a vida na aldeia, a religião extrema, a guerra, a pobreza, o caos, a desgraça e a perda. Percurso da mesma vida errante da sua fotografia: o ensino da vida numa só exposição.

Uma exposição que unifica a arte do instante na arte permanente no tempo e que expressa a brancura, os cinzentos, os meios-tons e o negro profundo, plasmados de um modo como se fosse o traço de um pincel japonês aplicado sobre o branco de um papel de arroz.

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Fernando Ricardo, Incêndio do Chiado, Lisboa (3) – África (5) – México (1) – Brasil (2)

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António Bracons, Fernando Ricardo – Com Dennis Redmond, da The Associated Press – Aspetos da exposição, 2023

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A exposição retrospetiva do fotojornalista Fernando Ricardo, “MOMENTOS”, organizada pela Casa da Imprensa e a Associação Centro Cultural 11, apresenta uma seleção do trabalho fotojornalístico do autor, desde os anos 70 até ao presente, está patente na Casa da Imprensa, na R. da Horta Seca, 20, em Lisboa, de 7 de setembro a 6 de outubro de 2023.

Dia 27 de setembro às 17:30 tem lugar uma conversa entre gerações: Fernando Ricardo e Ana Brígida.

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Fernando Ricardo, Autorretrato.

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Fernando Ricardo.

Fotojornalista desde 1970

Fotojornalista chefe da agência The Associated Press.

Repórter fotográfico da Agência Gamma e da Agence France Presse.

Director fotográfico do grupo Edipresse/Impresa.

Bolseiro do Conselho da Europa em fotojornalismo.

Prémio de fotografia Vitor Reia Batista, da UALG, em 2019.

Fez reportagens internacionais em cenários de guerra em África e no Médio Oriente.

Realizou a cobertura fotográfica de mais de 20 viagens do papa João Paulo II.

Fez a cobertura de jogos olímpicos, campeonatos do mundo de futebol e campeonato mundial de Fórmula1.

Tem fotografias publicadas na imprensa mundial, nomeadamente no International, Herald Tribune, New York Times, Washington Post, Boston Globe, Time, Newsweek, Stern, Der Spiegel, Paris Match,L’Expresse, Figaro, Times of London, Sunday Times, El País, Expresso, Visão, entre outros.

Fez várias exposições, nomeadamente ÁFRICA Galeria Mirage Cascais 2008, ART SUR Cáceres, Espanha 2012, FOTOGRAFIAS Margs – Museu de Arte do Rio Grande do Sul 2015, RIDING THE WAVE Galeria Soleil Peniche 2016, OLHAR O MUNDO Palácio da Galeria Museu Municipal de Tavira 2016, DIA DOS MORTOS Art Galery Porto Alegre, Brasil 2017, MOMENTOS Galeria Marca de Água Funchal 2020, OUT A Pequena Galeria Lisboa 2021, RETRATOS Gibraleon, Huelva, Espanha 2022, A PEQUENA AGALERIA EM GRANDE colectiva, Espaço Fidelidade Arte Chiado 2022, CORES Palácio da Galeria Museu Municipal de Tavira 2022.

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Cortesia: Fernando Ricardo.

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Sobre o trabalho de Fernando Ricardo no FF, aqui e aqui.

Atualizado em 2023.09.22.

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