LUÍS CAMPOS, FADING
Exposição em Lisboa, na Galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea, de 6 de julho a 16 de setembro de 2023.
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“Fading” é uma exposição sobre a memória, o desaparecimento e a perda.
Trata-se de um conjunto de fotografias de animais selvagens no seu habitat natural, tiradas ao longo de 12 anos em 14 países como Cuba, Brasil, Quénia, México, Canadá, Zimbabué, Botswana, EUA, Argentina, Indonésia, Maldivas, Equador (Galápagos), Colômbia e Sri Lanka. São fotografias a preto e branco, de 110X146 cm, com uma elipse preta esbatida à volta de uma imagem central, que alude a um processo cinematográfico de desaparecimento da imagem, designado por fading.
São fotografias que guardam a memória de vultos, de corpos, de cheiros, de horizontes, de espectros de luz, de contrastes e de experiências emotivas de múltiplos encontros com animais selvagens, tão diversos, mas também tão próximos de nós humanos na biologia, no comportamento, nas expressões, nos olhares e no nosso destino comum. São seres que vêem os seus habitats a encolher e a desaparecer de forma dramática, pela desflorestação, pela caça, pelas culturas, pela criação de gado, pela sobrepopulação humana e pelas alterações climáticas. Desde a revolução industrial, as atividades humanas têm destruído e degradado florestas, pastagens, pântanos e outros ecossistemas importantes. Este rápido desaparecimento de ecossistemas tão frágeis faz com que estes seres estejam a extinguir-se: os últimos 50 anos, houve uma diminuição média de 70% na população de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes (WWF, Living Planet Report 2020). A extinção destes animais anuncia a possibilidade de extinção da nossa própria espécie.
Esta exposição é complementada com um vídeo, também a preto e branco, onde o bailado subaquático de um leão marinho, em câmara lenta, será intercalado com dados sobre a quantificação e a velocidade desta extinção.
O processo de captura destas imagens envolve uma contradição, porque o turismo em zonas selvagens contribui, em si mesmo, para este processo de destruição, mas esse facto é algo que tem que ser assumido e esta exposição é uma indelével redenção dessa consequência.
O tema da perda é recorrente no meu trabalho. Foi assim na série “Empty Cities” (1983) ─ que pretendia encenar uma cidade pós-humana ─ na exposição “Transurbana” (1994) que se focava na perda da sensação de pertença a um lugar a que as cidades actuais condenam muitos dos seus habitantes ─, assim como no trabalho “A Última visão dos heróis” (1995) ─ que encenava a última imagem que alguns heróis, que deram a sua vida por causas, terão visto imediatamente antes de morrerem. Também o vídeo e as fotografias do “Futuro imperfeito” (2000) pretendiam encenar o envelhecimento do meu rosto e assim a morte a acontecer quando nos olhamos ao espelho. As séries “Aldeia da Luz” e “Memória de Água”(2002) aludiam à perda da memória dos pequenos sítios, da identidade dos lugares, das pessoas, dos usos e costumes, perda que se acentua lentamente, mas que é ainda mais brutal quando é decidida a prazo, como foi o afundamento da Aldeia da Luz.
“Fading” não são fotografias de natureza, não sou um fotógrafo de natureza ─ sou um artista que usa a fotografia e o vídeo para comunicar com os outros, atingir o espectador no punctum, de que falava Roland Barthes, dar a ver o que é invisível, transportar o espectador “através de fronteiras ou para zonas interditas”, no sentido de um “passador”, na acepção de Michel Certeau.
Estas fotografias não são representações de animais, são uma reinterpretação de imagens fugazes, de memórias em evanescência, de um mundo em desaparecimento, que é o nosso. Estas imagens são um ritual de separação, um grito de dor perdido num coro imenso, que pretende acordar as pessoas para lutarem contra estas ameaças que pairam sobre o nosso futuro e sobre o futuro das gerações vindouras.
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Luís Campos
Lisboa, 24 de fevereiro de 2022
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Luís Campos, Fading
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2023
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António Bracons, Aspetos do vídeo, 2023
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A exposição “Fading”, de Luís Campos, está patente em Lisboa, na Galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea, na R. Joly Braga Santos, lote F, R/C, de 6 de julho a 16 de setembro de 2023 (em agosto, a galeria encerrará aos sábados).
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António Bracons, Luís Campos, 2023
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Luís Campos Nasceu em Lisboa, em 1955, onde vive e trabalha.
Licenciou-se em Medicina em 1978. Realizou a primeira exposição individual em 1981, em Lagos, a convite do pintor Joaquim Bravo. Membro do grupo “Ether” em 1982, onde fez um ciclo de Estudos sobre História da Fotografia com António Sena.
Recebeu em 2002 a Medalha do Conseil Général des Hauts-de-Seine no Salon d`Art Contemporain de Montrouge.
Luís Campos é atualmente presidente do Conselho Português de Saúde e Meio Ambiente.
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EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS (seleção)
1981 “Foto-grafias”, Galeria Mercado de Escravos, Lagos.
1984 “Profanação lntemporal”, Pousada do Infante, Sagres.
1985 “Fotografias 82-84”, Livraria-Galeria Quarto Crescente, Portimão
1992 “Joaquim Bravo”, Reencontros, Galeria Monumental, Lisboa.
1993 “Limiares”, Museu Nacional de História Natural, Lisboa;
1993 “Limiares”, Casa das Artes, Porto.
1994 “Transurbana”, Museu Nacional de História Natural, Lisboa.
1995 “A Ultima Visão dos Heróis”, Galeria Diferença, Lisboa.
1997 “Transurbana”, Galeria Arco, Faro.
2002 “Memória de Água”, Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa
2002 “Aldeia da Luz”, Galeria Central Tejo, Lisboa.
2004 “Limbo”, Luzboa Bienal Internacional da Luz, Lg. do Teatro S. Carlos, Lisboa.
2008 “Luís Campos > Obras 1982_2008 > Fotografia & Vídeo”, Governo Civil de Lisboa, Centro Cultural de Cascais_Fundação D. Luís I, Centro de Artes de Sines, Museu da Luz (Aldeia da Luz), MACE_Museu de Arte Contemporânea de Elvas/Colecção António Cachola, Fundação António Prates (Ponte de Sôr).
2008 “Cabinet d’Amateur”, Sala do Veado, Lisboa.
2009 “All-inclusive”, Allgarve/Galeria Trem, Faro;
2009 “Transfronteiras”, com a Orchestrutópica, Culturgest, Lisboa.
2011 “All-inclusive”, Galeria do Teatro Municipal de Almada, Almada;
2011 “Vestígios”, Museu da Electricidade, Lisboa.
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Participou em mais de meia centena de exposições colectivas.
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COLECÇÕES:
Colecção Fundação PLMJ.
Colecção Pedro Cabrita Reis.
Colecção [Safira e Luís] Serpa_Auto-Retratos de Artistas Contemporâneos.
MACE_Museu de Arte Comtemporânea de Elvas,
Colecção António Cachola.
MEIAC_Museo Extremeño e IberoAmericano de Arte Contemporâneo, Badajoz.
Museu da Imagem, Braga.
Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT)
Diversas Colecções Privadas
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FILMOGRAFIA
1992 Joaquim Bravo – Reencontros, TV Artes, TV2, 22 Abril.
1993 Limiares, TV Artes, TV2, 24 Março.
1994 Transurbana, TV Artes, TV2.
2002 Aldeia da Luz, Sociedade das Belas Artes, SIC Notícias.
2004 Limbo, Magazine de Artes Plásticas, Canal 2.
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Pode conhecer melhor a obra de Luís Campos aqui.
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